PREFÁCIO
Em uma "mágica esperança", Éric Meireles de Andrade estreia seu primeiro livro de poesias. São fragmentos secos, diretos, com a força de uma juventude que persiste em sua alma. Conheci Éric trabalhando no departamento de Esporte e Lazer na Prefeitura de São Paulo e logo tivemos uma empatia direta. Éric chegava com a vitalidade daqueles que buscam “entoar a luta do povo”, dos que sensibilizam pelos seus “gostos e desgostos”. E seu canto mágico é de um louco são, “um homem que diz não...” e que se recusa a seguir as cartilhas impostas, tanto na métrica, como na vida. Em seus Fragmentos, Éric para, ouve o silêncio, apaixona-se por multidões e também por uma só, que do “quarto, nada mais é dona... Só o silêncio”.
A poesia marginal de Eric expressa a lucidez da revolta, “rompe a parede dos tempos”, ouve seu amigo chorar “Benito”, volta a “Minas que tardia”, reencontra sua mãe, sonha com “chuvas chorosas” e nelas busca a paz, bondosas chuvas para quem segura “o mar nas montanhas”. Em sua juventude, Éric é um homem de trinta anos (ou mais, ou menos, sempre continuará jovem), homem canhoto que persegue a primavera, “febril... de sangue... escrota... prima. Primavera Vera / beleza explícita de galhos calvos...”. Quem, poderia pensar em galhos calvos na primavera? Apenas quem tem a sensibilidade de olhar para um país como Brasil, tão infinito, tão exuberante, mas ao mesmo tempo com galhos tão calvos, de um povo que ainda não floriu plenamente. Mas que não desiste nunca, e insiste, navega, sorri. E olha além da floresta, como Mário de Andrade (mais uma identidade a me unir a Éric) “e escreve como modernidade quente o asfalto e o modernismo...”.
Em seus Fragmentos, agora em São Paulo, há tempo de parada na rua do Arouche, “Ô miséria de vida!”, numa rua que transborda, numa cidade que é muitas. Dialética, em “brigas simultâneas e desordenadas”, cheia de encruzilhadas onde o “oposto é ao mesmo tempo o mesmo”. E assim Éric foi aprendendo na terra em que há mais contrastes neste Brasil dos contrastes; antropofágico, aprendeu em São Paulo a ser “poeta e analfabeto”. Ao trabalharmos juntos, vi Éric se embrenhar nas periferias, viver nos programas sociais, na Bolsa Trabalho para os jovens e no Começar de Novo para os velhos. E unindo os dois, vibrando com cada conquista. Posteriormente, quando vim trabalhar no Ministério da Cultura, trouxe Éric; quem mais poderia se jogar com tanto afinco em vilas e favelas? Quem mais poderia brilhar a cada pequeno êxito de um jovem em um Ponto de Cultura? Sem descanso, Éric sorriu. Sem descanso, Éric chorou. Sem descanso, Éric decretou “Morte aos Elefantes Brancos”, brigou com a burocracia, com os percalços e os nomes frios. Mas foi na lucidez da revolta, olhando o “Ocaso de Paranoá” que não se esqueceu de “que hoje é simplesmente hoje, E amanhã, Talvez seja uma coisa diferente...”.
Boa leitura a todas e a todos, nestes Fragmentos há poesia de primeira qualidade, de um Brasil de primeira qualidade, marginal e que começa a florir.
Historiador
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