Confrários!: Neologismo utilizado pelos participantes da Confraria, nascido da junção das palavras confrades e revolucionários!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

IV ANTOLOGIA DA CONFRARIA DOS POETAS - Edital 01/2015: Parcerias

IV ANTOLOGIA NACIONAL DA CONFRARIA DOS POETAS

Após a exitosa edição da “III Antologia Confraria dos Poetas”, e com imensa satisfação, a “Confraria dos Poetas” apresenta o projeto da quarta antologia nacional.

Reunindo 22 poetas de diferentes cidades do país, a terceira antologia somou estilos e estéticas distintas. Como proposto, o projeto dialogou diversos estilos da poesia contemporânea e sua potencialidade lírica, contribuindo, desta forma, com o registro da atualidade poética brasileira. Mas queremos mais.

Em parceria com a Prefeitura Municipal de Marília, a antologia inovou. Facilitou a inserção dos poetas e da poesia mariliense no cenário nacional nesse momento histórico. Enquanto cidade, Marília/SP mostrou-se parceira, sobretudo, de seus artistas, cumprindo com o proposto em seu planejamento cultural, divulgou, tanto em nível municipal quanto em nível nacional, a produção local, incentivou a poesia contemporânea e distribuiu, entre suas bibliotecas e escolas públicas municipais, o fruto de um trabalho conjunto, em que seus munícipes poetas contribuíram de forma singular.

Queremos, neste momento, expandir essa bem-sucedida parceria a mais cidades que, assim como Marília/SP, possuem como objetivo promover a produção literária local, e fomentar seus poetas ajudando na publicação de suas obras. Sabemos que a publicação de poesia reduziu, conforme mostra o “Mapa da Leitura no Brasil – 2012”, além de ser muito cara, dificultando ainda mais que escritores possam publicar suas obras individualmente.

Queremos que nossos poetas, de norte a sul de nosso país, mostrem seus versos! Queremos valorizar a arte e a cultura brasileiras! Queremos mostrar o Brasil como é: diverso, multifacetado, belo, dotado de grandes criadores, grandes poetas! Participe de um processo lírico coletivo e nacional, assim poderemos divulgar nossos versos Brasil afora. Conheça a Confraria dos Poetas e participe do projeto de nossa quarta antologia.

Sejam bem vindos(as)!


CONFRARIA DOS POETAS


Dúvidas?! Entre em contato conosco através do endereço: confrariadospoetas1@gmail.com


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IV ANTOLOGIA NACIONAL DA CONFRARIA DOS POETAS
REGULAMENTO

– PARCERIAS COM O PODER PÚBLICO –
ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA, FUNDAÇÕES, EMPRESAS E ENTIDADES DA SOCIEDADE CIVIL


Capitulo I
Das Informações Gerais

Nome da antologia: IV Antologia Confraria dos Poetas;
Número mínimo de poetas participantes: 20 poetas;
Número mínimo de exemplares da primeira edição: 1.050 livros;
Números de páginas por poetas: 11 páginas (10 páginas de poesia e 01 página de apresentação com foto);
Total mínimo de páginas da antologia: 230 páginas;
Valor de participação de cada poeta: R$750,00 (sem contar o valor do lançamento nacional em São Paulo);
Cada poeta receberá 50 exemplares, após o lançamento nacional. O preço unitário do livro para a venda será de até R$25,00¹;
O prazo deste regulamento expira no dia dois de março de dois mil e quinze, podendo ser prorrogado a critério da Confraria dos Poetas.

Capítulo II
Das parcerias com o poder público de administração direta e indireta, empresas/fundações privadas e entidades sociais;

A Confraria dos Poetas realizará parcerias com o poder público, empresas/fundações privadas e entidades sociais e de classe, visando maior participação de poetas na quarta antologia nacional da entidade;
10º A parceria se realizará através de patrocínio ou termo de parceria, concordado entre as partes;
11º O valor de cada poeta participante será de R$750,00. O número total de poetas patrocinados será acertado entre a Confraria dos Poetas e os órgãos ou entidades parceiras.
12º Caberá a Confraria dos Poetas oferecer ao órgão ou entidade parceira toda a documentação necessária para a realização da referida parceria com celeridade de modo a não atrapalhar os trâmites internos do órgão ou entidade parceira;

Capitulo III
Das Contrapartidas

13º Cada poeta participante terá o direito de 50 exemplares da IV Antologia Confraria dos Poetas, e parcela desses livros farão parte da contrapartida da parceria, para serem distribuídos entre as bibliotecas públicas, escolas de ensino médio, universidades e faculdades da cidade, entes filiados, entre outros, ficando a critério do órgão ou entidade parceira a quantidade a ser arrecadada da contrapartida e a distribuição;
14º O órgão ou entidade parceira que custear 10 poetas terá sua logomarca na contracapa do livro, como parceira da IV Antologia Confraria dos Poetas;
Parágrafo Único: Todos os parceiros, independente do valor da contribuição terão menção honrosa no livro;

Capítulo IV
Da seleção dos Poetas

15º Os critérios de seleção dos poetas serão definidos pela Confraria dos Poetas e o órgão ou entidade parceira, respeitando as especificidades, a qualidade e os objetivos da IV Antologia Confraria dos Poetas;
16º Para realizar qualquer tipo de seleção, é obrigatório que os poetas postulantes apresentem 10 páginas de poesia. Cada página terá 30 linhas, tamanho 12, espaçamento 1,5. É proibido dois ou mais poemas em uma mesma página;
17º Além das 10 páginas de poesia, o poeta, obrigatoriamente, apresentará uma página com apresentação e foto. A Apresentação terá até 15 linhas, tamanho 12, espaçamento 1,5 cm e 01 (uma) foto digitalizada;
18º Após o processo seletivo dos poetas participantes, o órgão ou entidade parceira enviará a relação dos selecionados, e seus respectivos poemas e apresentações com fotos digitalizadas, para a Confraria dos Poetas;
19º Todos os poetas participantes da IV Antologia Confraria dos Poetas, obrigatoriamente, deverão preencher e assinar a Ficha Cadastral e o Termo de Compromisso, que serão enviados, pela Confraria dos Poetas através de e-mail, aos mesmos após o envio das 10 páginas de poesia, 01 (uma) apresentação e foto digitalizada.


Capitulo V
Do lançamento nacional e local

20º O lançamento local dos poetas patrocinados, bem como o transladado dos mesmos ao lançamento nacional em São Paulo, serão de responsabilidade do órgão ou entidade parceira ou dos próprios poetas, eximindo a Confraria dos Poetas do transladado.
21º Os poetas que forem patrocinados e morarem na região metropolitana de São Paulo terão que arcar o valor do lançamento nacional - R$250,00 para cada. Podendo ser divididos em 03 (três) vezes, a partir do dia dez de março de dois mil e quinze. Todos os poetas que contribuírem com o lançamento nacional receberão os valores de seus exemplares vendidos no evento.

Capitulo VI
Das disposições finais

22º Caberá ao órgão ou entidade parceira, que não for da região Metropolitana de São Paulo e não participar do lançamento nacional, a responsabilidade pelo custeio do envio, via postal ou malote, de seus exemplares e após o recebimento dos exemplares a devida distribuição entre os poetas;
23º A execução e a organização do projeto é de responsabilidade de entidade Confraria dos Poetas, cabendo a ela tomar todas as medidas necessárias para que a IV Antologia seja realizada nos prazos determinados, bem como com a qualidade que todos participantes do livro esperam;
24º Após 06 (seis) meses de publicação e lançamento da IV Antologia, a Confraria dos Poetas terá o direito de publicar as fotos, apresentações e poemas dos poetas participantes no blog e em outras mídias/redes sociais da entidade;
25º Os casos omissos deste regimento serão resolvidos pela Direção da Confraria dos Poetas e acertado com os órgãos ou entidades parceiras.

São Paulo, 12 de janeiro de 2015
Confraria dos Poetas

NOTAS:
[1] O valor total dos 50 exemplares de “Confraria dos Poetas – IV Antologia” será de até R$1.250,00;

domingo, 11 de janeiro de 2015

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Você quer dormir comigo esta noite?", de Victória Sales

VOCÊ QUER DORMIR COMIGO ESTA NOITE?

Ainda me lembro
do nosso último beijo…
Encontro algum traço teu
em tudo que vejo, e me ponho a lembrar
de ti, do teu rosto, do teu olhar,
de tua voz, teus braços e abraços.
Você quer dormir comigo esta noite?
Ainda me lembro
do nosso primeiro beijo.
E vejo que, agora, a Lua sorri pra mim
Todas as noites, um sorriso largo e feliz,
igual ao meu quando te vejo.
Eu ainda me lembro
da primeira e da última vez
que coloquei meus olhos em ti.
Da primeira vez, confesso…
Não achei que fosses tão encantadora,
mas, aos poucos, foi me cativando.

Porém, da última vez
percebi que nunca houve nada entre nós.
Ainda me lembro de ti
quando escuto certas músicas.
Às vezes as escuto só pra isso,
só para me lembrar do nada que me ronda
E de teus traços que traçam
um futuro incerto e instável,
assim como o que sinto,
da mesma forma que sou.
Ainda não sei o porquê…
Guardo essas coisas em minha mente,
já que isso foi só um sonho.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Mantra", de Victória Sales

MANTRA

Ele te acalma, te faz ver tudo diferente, mas igual
Colore seu mundo preto e branco
Te deixa leve e sem medo de voar
Te liberta…

Não é amor,
mas te embriaga como tal
Como tal
A tal felicidade

O meu mantra
A paz na voz de quem o canta
Entoa a dança
De quem vive

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Tempo", de Victória Sales

TEMPO

Preciso pensar!
Preciso parar e pensar.
Preciso parar, pensar e analisar.
Parar, pensar, analisar e refletir!
Parar, pensar, analisar, refletir e agir…
Mas, antes de tudo, preciso me encontrar!

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Neguinha", de Victória Sales

NEGUINHA

Filhas da água
Irmãs de alma
Semelhantes nas diferenças
Diferentes nas semelhanças
Nenhuma palavra é capaz
de descrever o laço que nos une.
És minha mãe, minha irmã, minha amiga, minha neguinha…
Meu anjo da guarda.

Possuis um abraço que conforta e acalma,
Tenho, em ti, meu porto seguro
És uma parte minha que pensei que nunca ia encontrar
És o chão que me sustenta, a luz que me ilumina
E a força que me alimenta a alma.
Sinto-me protegida ao teu lado,
como se nenhum mal pudesse me acontecer
Tu és a pessoa a quem daria minha vida se preciso fosse
És meu espelho, minha negra de pele clara,
Minha pequena de coração enorme,
Presente de Oxalá e Iemanjá
De ti nunca vou me separar.

Para Letícia Rodrigues

III Antologia - Confraria dos Poetas: "África", de Victória Sales

ÁFRICA

As lágrimas que choraste hoje me pertencem
As dores que sentiste hoje são minhas
O sofrimento que um dia foi teu hoje é meu,
As humilhações que sofreste ainda hoje as sofro.
Sou o passado sofrido de um povo,
Sou as esperanças esquecidas na travessia da Calunga Grande,
Sou a garra da África brasileira
Sou o canto dos terreiros e as rodas de capoeira,
Sou a mãe negra que viu seu filho morrer na mão dos brancos.
Sou o preto velho sentado no toco
Sou a história de um povo
Sou filha da África
Por ser filha da África, ainda sinto as dores do açoite
Ainda escuto o barulho das chibatas
E vejo o sorriso na cara daqueles que escravizaram meu povo

Alguns ainda acham que a cor da minha pele
diz quem sou e o que faço.
Mas desde quando a maldade tem cor?
Quem disse que a cor da minha pele define meu caráter?
Minha pele negra me lembra de onde eu vim,
Em minha pele está contida minha história
e a de todos aqueles que vieram com a Calunga Grande
Minha pele, minha alma e meu coração
contam a história de gerações de negros
escravizados por seu passado ainda presente

Sou um dos filhos de uma pátria mista e mística,
que se orgulha da cor de sua pele e que, acima de tudo,
não tem vergonha de sua história
Sou África-Brasil.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "A última", de Victória Sales

A ÚLTIMA

Esta será a última vez
Que irei querer-te junto a mim.
Será a última vez
que meu coração
não seguirá minhas ordens,
deixando-me à mercê de teus
olhares, tuas mãos e tua boca.
Esta será a última vez
que minha mão deslizará por tua cintura,
querendo envolvê-la.
Meu corpo não mais
encontrará o teu durante a noite,
nem minha boca a sua,
pois essa será a última vez.
Mas, já não é a primeira que te digo isso…

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Falta de nós", de Victória Sales

FALTA DE NÓS

Minha pequena, por que me olhas assim?
Agora sou eu que te sinto cada dia mais distante de mim
Tua ausência dói em meu peito
Sinto falta de teus beijos e abraços
Sinto falta da pessoa feliz que sou ao teu lado, e só ao teu
lado
Sinto falta do teu sorriso,
Sinto falta do teu rosto junto ao meu
Sinto falta de nós…

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Sentimentos líquidos", de Victória Sales

SENTIMENTOS LÍQUIDOS

Sou feita de emoções líquidas,
Sou feita de sonhos,
pensamentos e ilusões.
Sou o sangue que corre em ti,
as lágrimas que não queres derramar.
Sou o amor escondido
bem no fundo do teu olhar.

Quero ser o que não se pode ver.
Quero ter o que não se pode ser.
Quero ver o que não se pode ter.
Não quero nada além de você.
Nada além de mim.

Sou eu, eu sou o nada
Em cada parte do caminho e da madruga.
Eu sou o nada que se esvai entre os dedos. Sou eu!
Eu sou o medo de sentir sendo sentido,
Sou o amor negado e renegado,
Sou o querer não querendo ter.
Sou sentimento líquido,
nunca endurecido, só aborrecido
Sou água do mar que brota dos olhos
Pra lavar, levar os males da alma,
para que esta possa viver em calma.

III Antologia - Confraria dos Poetas: de Victória Sales (Apresentação)

Apresentação:



VICTÓRIA SALES


Meu nome é Victória Caroline Sales de Sousa, mais conhecida como Vick ou Vih. Nasci em São Paulo no dia 26 de dezembro de 1992 e, aos 2 anos de idade, mudei-me para Nova Guataporanga, onde passei minha infância e adolescência. Sou estudante de Biblioteconomia da Unesp – campus de Marília – e faço teatro na Escola Livre de Artes de Marília (ELAM). Fui aluna do projeto Guri durante 3 anos, em que aprendi a tocar percussão e a amar todas as formas de arte. Tenho a melhor família do mundo e os melhores amigos. Amo escrever da mesma forma que amo viver. Mãe, te amo até Júpiter ida e volta!


“Sou uma metamorfose
Em constante mudança
Recém-saída dos quilombos,
com os instintos aflorados,
ainda não corrompidos pela sociedade.”

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Sede dentro de um mundo d’água", de Tiago Lisboa Tellini

SEDE DENTRO DE UM MUNDO D'ÁGUA

Poetas, me salvem.
Estou morto de poesia.
Tão longe.
Do sertão, aqui só tenho a solidão e a sede
(são milímetros tão compridos, aos poucos torturando)

Poetas,
me tragam a vida, suas gramas, graças e tristezas,
o doce salgado amargo que estalam seus dentes.
Quero defeitos e sonhos,
Sonhos (…) mesmo que instantâneos, como suco de saquinho,
manchando a água, colorindo o gosto (não precisa adicionar
açúcar).
— Me ofereçam, tenho sede!

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Pobre art", de Tiago Lisboa Tellini

POBRE ART

Sonhos são carregados
pelo vagão do metrô lotado
São Paulo, zona Leste é o sentido.
Espremendo frases humanas,
até pingar letras,
que vão se espalhando pelo chão…

disfarço o sapato furado
por onde sinto a palavra,
versos desencapados, meia molhada
Fuzzzzzzz! (…)
um choque de ideias distorcidas
Rickenbacker girando à toa nos ouvidos
Farrapos de amigo mendigo colecionador de discos
respiram meu caminho.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Círculo vicioso de poucas palavras", de Tiago Lisboa Tellini

CÍRCULO VICIOSO DE POUCAS PALAVRAS

Leio, leio, leio…
me entorto
Arrepio frio
sinto, adentro,
o gosto quente do seu rosto.

— Essas suas letras salgadas salpicadas ardentes, numa frase só.

De culpado,
me vejo inocente
condenado a parágrafos
carregados de vírgulas de Adeus,
mas sem um ponto-final.

Leio, leio, leio…
Ufááááááááááá!

Este movimento,
quando você passa
arrastando este perfume,
abre um oceano no mundo

Faz meu olhar escorregar,
deslizar suas ondas,
correr suas curvas,
afundar em fantasias

e estas palavras que aqui borbulham
sou eu, quase afogado, tentando te respirar.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Segredos", de Tiago Lisboa Tellini

SEGREDOS

Nascem intocáveis
E, cada vez que o tempo roda,
Mais belo e indomável ele se torna

E toda vez que os encontramos,
ele desce pela garganta seca
Queimando, revivendo o desejo
que já estava extinto.

Volta a ser guardado
Lá no fundo, empoeirado,
no lado esquerdo da razão.

“Espio doce você
por onde andas
rabisco sombras
sigo os olhos (…)
pisco borracha
(distraído, te perco)

desenho despejo desespero

um (…) apelo, dois (…) você aparece
nua, pelo que se estica,
no arrepio frio, arregalando
olhos hipnóticos, livres,
que fornece a luz do dia
em plena noite,
MUDO (…)
de lugar? calado?

só confundo o paraíso
quando sinto seu cheiro.”

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Um quadrado vazio rolando à toa nesta cidade…", de Tiago Lisboa Tellini

UM QUADRADO VAZIO ROLANDO À TOA NESTA CIDADE...

Buscando fatos para porta-retratos
Ajustando os momentos a relembrar

Semeando loucuras acidentais

(— Preciso escrever isso!)

E acordo sob a margem
de uma pautada avenida negra,
onde carros se vestem de palavras

o vermelho dos freios oferece o calor
de um outro lado, enquadro a luz dos faróis

luzes e carros que passam rápido
vazam sem que eu possa segurá-los
em minha mente, pisca-pisca fantasia

E, nesta equação confusa,
solto uma risada alta,
levantando nuvens de olhares vazios
“Que cara louco!” (pedestres pensam)

Acabo perdendo a viagem
E volto a ser mais um quadrado vazio rolando à toa nesta
cidade…

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Calçada hipnótica", de Tiago Lisboa Tellini

CALÇADA HIPNÓTICA

Estes quadriculados embaralham minha mente…
Tropeço e mergulho num colapso flutuante de ideias

Vou ao fundo, entre cartas escritas por versos mal acostumados.
Encontro minhas pobrezas literárias marginais…

Em promoção:
— Compre duas e leve uma (…) porção de sonhos delirantes,
anticapitais,
corrompidos por uma Coca-Cola gelada,
que desce aliviando a garganta seca…

O que sobrou de Raulzito?
Está solto no bolso enrolado em guardanapo de boteco
Uma passagem grátis para Baurets City.

Fantasias masturbatórias continuam girando no ventilador
das ideias
A velocidade me confunde, Godard com trilha de Plato.
Sei que é arte, só não sei por quê. Mas, quem precisa saber?
É pobre art.

Versos e seus olhos cegos.
Torcem essas loucuras até pingar palavras
que não se encaixam.

E ainda nos chamam de concretos?!
Que mundo louco!
Quer coisa mais orgânica que isso?!
Uma merda pura…

O centro fede, mas já estou acostumado.

(esbarro num velho bêbado)
— Desculpe.
— Porra, olhe por onde anda!
— Vai se foder! (só pensei).

De repente, uma luz sinalizando…
14:35, 31º, Metrô Anhangabaú.

Ufa, que susto…
pensei que esta calçada fosse o caminho para o fim do céu.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Rua Augusta: circulando num quadrado perfeito", de Tiago Lisboa Tellini

RUA AUGUSTA: CIRCULANDO NUM QUADRADO PERFEITO

Caminho sob um doce olhar geométrico
Procuro espaço entre esquinas ponte-agudas
Um esboço livre para sonhos baratos

Velhas canções acompanham as ideias.

Ideias? Frases são retângulos desajeitados
numa fortaleza de vidros espelhados
que escondem a Lua de meus passos
Uma pose. (Câmeras filmam os meus retratos).
“Sorria, você está sendo vigiado…”

Sob um chão esburacado de estrelas que não brilham,
o reflexo da vitrine me enquadra
Moldura de plástico imitando aço
Coloco-me um preço, me ofereço

Sem dinheiro, acendo um cigarro
Sigo me enrolando em passos
A caminho do centro
Em cada quadra, mais me enquadro
Rua Augusta e suas formas imperfeitas
Hábitat de seres estranhos
Cabelo colorido de neon
preciso ficar atento, para não perder nenhum movimento
A caminho do centro.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Poesia: uma colcha de retalhos", de Tiago Lisboa Tellini

POESIA: UMA COLCHA DE RETALHOS

Remendo emendo o dia
Fórmula matemática de poesia
Retalho são cores, flores, pano velho.

Desenho despejo desejo

Palavras se movem
Objeto direto como agulha
Que só se costura e some
Substantivo sem pronome

Ciladas em sílabas
Que não dizem nada
Se inspiram, aspiram
(Soltando fumaça)
Sente o perfume e o condena
Em rabiscos, métricas sem lógica

Não preciso que ria, rima.
Não importa, apenas me esquente!

III Antologia - Confraria dos Poetas: Tiago Lisboa Tellini (Apresentação)

Apresentação:

Tiago Lisboa Tellini


TIAGO LISBOA TELLINI


O silêncio de um grito

Leitor, antes de virar esta página, saiba que escrevo poesia viva; eu apenas pulso palavras. Sou apenas mais um rapaz de 30 anos criado na zona leste de São Paulo que estica palavras no papel de um monitor, entre leis gramaticais, que anarquiza o sentimento.

Ando à procura de um estilo livre, da simplicidade, desprezando rimas e compassos! Minha poesia é feita de ilusões, verdades e mentiras, rebeldia, inconformismo careta, alucinações absurdas. Minha poesia desprende-se da carne.
Minha poesia precisa do medo, do absoluto, do luto pela luta. Pois, dentre as poucas coisas em que acredito, uma delas é que a poesia muda uma vida e muda o mundo.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Sonambulismo", de Raquel Negrão

SONAMBULISMO

Escuta, quem precisava acordar já partiu,
Fez as malas e saiu, sem a janela fechar
E saiu com as malas por fazer
E as meias por costurar
Saiu sem acordar.
Só me deixou o relógio, sem tempo a marcar
o café por fazer, a flor por colher, e o vaso a plantar
Escuta, quem preciso chamar já partiu
Arrumou a cama e saiu
Sem a porta fechar!
E saiu sem adeus dizer
Deixou-me a casa por arrumar, o bilhete por escrever
O justificado a justificar.
Escuta, quem precisava acordar Dormiu!
Fez a cama e partiu sem no compromisso pensar
E saiu com o sono a desfazer
Sem sonho a realizar, Dormiu!
Partiu sem acordar
Me deixou o livro por ler
a comida por fazer e um corpo por acordar
Escuta, quem precisou acordar já desistiu
Virou para o lado e dormiu, fingiu!
E me deixou a dor por sofrer
O sol por renascer
A esperança por esperar.
Escuta, aqui quem precisava acordar
Já partiu!

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Samba da decisão", de Raquel Negrão

SAMBA DA DECISÃO

Quando decidi que não podia mais continuar com nosso amor,
eu não sabia o tamanho da dor
que estava reservada ao nosso fim

Os sonhos destruídos em pequenas partes
das nossas noites, antes estandartes,
eram, agora, vidraria em estilhaços, dilacerantes
Quando por descuido quebrávamos nossas taças e cristais

O vinho de outrora não nos faz mais rir,
não nos faz dormir. Não nos enrubesce mais
Apenas inebria e anestesia nossas desesperanças
Nosso presente de lembranças
e a apatia dos novos carnavais

Por que, então, continuar ausentes?
Enquanto ainda há vida, há um presente
Por que não nos vamos? Por que não seguimos em paz?

Quando decidi que não podia mais continuar o nosso amor,
não quis medir a dor, como medem as ruas os marginais
Em busca do invisível, no escuro,
do imprescindível no imaturo
do plausível nos jornais.

Quando decidi que não podia mais seguir com nosso amor,
pude resistir à dor, na despedida não me fiz de redimida
Olhei otimista, a partida e, me entreguei aos seus tribunais,
quando decidi que não podia mais seguir…

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Cerrado adentro", de Raquel Negrão

CERRADO ADENTRO

Vejo afora do mato ralo,
o mato seco, raso,
o mato turvo, curvado,
parecido morto, mato calado.
Se lá fora não havia o espaço desejado,
construído, moldado,
não importava se fora queimado
o mato seco, esturricado, dali preconceituado.
Motivado pelo desenvolvimento empenhado,
me coloquei adentro
o machado empunhado
fogo marcado,
no meio, entre, dentro me meti,
cego humano ocupado
mas vi, aí, atento, atônito,outro legado:
Cerrado aflorado,
o mato bravo,
a beleza escondida sem corcovado
beleza em curva, crua
mato matuto, retorcido, não resignado.
Canto em concerto de Seriema
chuva de cheiro, cheiro de guará notado
Lobeira em beira de trilha, gosto de pequi,doce da gabiroba
Quaresmeira em punho cerrado, flor comunista, foice
resistente em colorido declarado.
Parte, como uma parte de Cerrado desfrutado, desbravado
uma mulher, um homem, humanos humanizados
em natureza plena, o meio vivo
o todo em Cerrado
visto de dentro, adentro
Cerrado avivado.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Acerca da linguagem", de Raquel Negrão

ACERCA DA LINGUAGEM

Não, talvez seja simples
o colapso informal
da linguagem que suporta
o céu onde ele está guardado.

E, em que há verdade
Senão em tudo o que se expressa entorno dos signos
Das cascatas, que são grandes castelos,
E que criança faz chorar
Da forma informação marmelo?

Não, talvez seja tão mais simples
O elo perdido da linguagem
Pura e simples
Além da epopeia
Que suporta o epicentro onde se guardam as ideias.

E, em que há verdade
Senão na forma da ideia que tudo expressa
Acerca da acuidade de tudo
que informa imagem, cheiro, som, amor
E o gosto que informa a forma, calor, a dor
E a distância em que se vai ao longe
na ponte em que se distingue o tempo de seu próprio tempo?

Não, talvez seja simples.
Tão mais simples que a palavra, a ideia
Tão simples mais que possa suportar
O céu, as cascatas e o marmelo.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Oceanoseria", de Raquel Negrão

OCEANOSERIA

Tão superficial era o oceano,
que, em vão, quebrava na praia
Tão próxima era a praia,
de tão distante, era silêncio
Tão entorpecente e fria, era a noite,
de tão quente, era dia.

Era angústia e harmonia
Que o vazio inerte
Impunemente tripudia
Era o arbítrio enclausurado
O sentido apagado,
de tão descontente, era poesia
Era soneto negado
Mil vezes rejeitado
Mas, de tão breve, se repetia

Era somente
Era o presente
Era tortura,
de tão eufórica,
Era apatia.

Tão profundo era o horizonte
Além do mar,
que, de tão próximo,
Oceano seria.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Iminência", de Raquel Negrão

IMINÊNCIA

Há sempre de haver uma cadência
Iminência para despertar a rebeldia de todos nós
Inconformados jovens de nascença

Sem que terminemos, nós, por nos findar
Inclusos, mortos-vivos na digressão
Dos dias das horas propagandiáveis
Da mídia
De paixonites derradeiras
desesperanças conformeiras

Há de haver iminência,
Luta reminiscência
Sem que terminemos, nós, por nos excluir
Inclusos na digressão
Das esperanças camufladas
pela posse dos mundos das coisas-pessoas

Há de não haver complacência
Com o abuso uso
Sem que terminemos, nós, des-esperados
Sem expediência, des-expedientes
Esperados, Fadados, Adaptados
Excluídos inclusos na digressão
Do pouco que é menos do mínimo direito

Há sempre de haver uma falência, Fim de espera imensa
Para nos despertar a valentia
De inconformados jovens de nascença

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Não basta", de Raquel Negrão

NÃO BASTA

Basta viver!
De viver, não basta!
Não,
De não viver, basta!
Arrasta o céu
Céu que o sorriso arrasta
Enquanto estrela cai,cometa passa!

Gasta a tua vida
Vive e não embaça
Vida só, não!
Só não gasta com poeira e traça!

Laça a tua lua
Lua não engana a massa.
Enquanto vive, não!
Não só come e pasta!

“Engraça” tua vida
Vive e brinda a taça
Vida livre é vida
E livre vida é vasta!

Basta viver vida
Vida não é casta!
Arrasta a lua, gasta o céu,
O cometa amassa!
Laça tua vida, vida abraça.
Viver de vida besta, basta!

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Lei", de Raquel Negrão

LEI

Só sei que
ainda pouco sei.
Só sei que sei
que não há lei
e não há rei.

Sei que não hei
de esquecer
de me lembrar
de mais sofrer.

Só sei que não há lei
de esperar
de coroar
de entorpecer.

Sei que não há rei
a endossar
a reinar
a eleger

E só sei que não hei
de recuar
de me entregar,
tampouco
me vender.
Dito isso, sei que tudo sei.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Atemporal", de Raquel Negrão

ATEMPORAL

Que horas são?
Será?
O mundo não espera na janela
O mundo corre
E não socorre
A vida leva
E não releva
Será que a paz é mesmo certa?
Será que a direção é mesmo esta?
Será que o futuro
é uma ruela?
Que tempo será?
É.
Tempo que corre
e não morre
Tempo que gera
e não erra
Tempo que sofre
E socorre
Que dia foi? Será?
O passado não segue, fere
Hoje não dormi, escrevi
Amanhã é incerto, parti
Uma flor eu já plantei, reguei
Uma onda já salvei
Um barco naufraguei
Outra montanha escalei
MAS,da luta,
não me esqueci.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Reconhecida", de Raquel Negrão

RECONHECIDA

Canta tua poesia engasgada
embranquecida no ritmo dos dias todos tolos
Dias esquecidos, todos roucos
irreconhecidos, irreconhecíveis, novos poucos.
Enquanto vivo meu mundo
amarelecido, desconhecido de mundos outros
Enquanto todos vivem seu mundo
embevecido, privativo
compulsório irrefletido
irremissível oco
Fala tua poesia rasgada
de versos incontidos,
combativos do impessoal infinitivo
Infinito sem fim, sem limite, definido
Dias reconhecidos em mundos outros
inserido, incumbido
de produzir o improduto
homem novo
reflexivo, referido
reagido ao desvalido mercantil enobrecido
informa, forma, manifesta uma prosa
poética polifilética
E desengasga teu canto
minha fala
reconhecida, proferida, individida
fala escancarada,
poesia,
desejada desterrada.

III Antologia - Confraria dos Poetas: Raquel Negrão (Apresentação)

Apresentação:

Raquel Negrão


RAQUEL NEGRÃO


Raquel Negrão. Nascida no dia 23 de junho de 1981, em Passos, Minas Gerais. Bióloga de formação e mestre em Ecologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Atualmente, é doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UFSCar e,às sextas-feiras, radialista do programa “Agora Falando Sério” sobre políticas ambientais e ecologia em debate na rádio UFSCar 95,3 FM. Sinto-me uma poetisa amadora, na iminência de publicar as primeiras, porém, são antigas linhas que estiveram sempre guardadas e conhecidas entre os conhecidos. Assim, espero que os caros leitores desta antologia poética possam dar um voto de confiança a esta caloura entre tantos poetas de profissão.
Saudações amigas,

Raquel

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Brasileiro, obrigado", de Ramon Franco

BRASILEIRO, OBRIGADO

Um boteco, Milionário & José Rico
Cerveja, Trio Parada Dura
Churrasco, lembranças de um avô
Domingo de manhã, Rolando Boldrin
Sexta-feira Santa, procissão e Padre Zezinho
Setembro, desfile e, na calçada, bandeirinha
Eleição em outubro, santinho no chão
Dia de Finados, melancia e chuva
“Já passou de português, é brasileiro”
Noel, Rosa, Cartola
Brasileiro, obrigado

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Vaga-lume, vaga bando", de Ramon Franco

VAGA-LUME, VAGA BANDO

Todos vieram de longe,
mas se encontraram na mesma ilha
Se é poeta maldito, poeta caipira,
poeta da vila ou poetinha, estão na ilha.
Pode ser ilha negra, mas ela brilha.
Brilha nas trevas de qualquer tempo.
Todos vieram de longe

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Entre Cora e Marina", de Ramon Franco

ENTRE CORA E MARINA

Dedicado a Marina Colasanti e Cora Coralina

Cora, rio de dentro
Marina, rio de fora
A pureza sofrida de Coralina
A inteligência sofisticada da garota italiana,
que viveu o cosmopolitismo de Ipanema

Entre esses dois mundos distintos,
mas brasileiros na união: uma coletânea
azul, onde adormece uma era
Era de cubano, ninho de um passarinho,
De um japim.

Asmara, Goyaz
As mara
Goy az
Protagonistas de suas vidas
Vidas novas
E velhos Goiases

Jornal do Brasil
Jaboticabal
Marina
Ana
Santas
Sant’anna

Coralina, rio
mar, Marina

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Para João", de Ramon Franco

PARA JOÃO

Versos da neve

De um autor caipira, que mal saiu de São Paulo
Para outro autor caipira, que, lá distante,
Nasceu hoje, em 27 de fevereiro
João Isteinbeque

Slow, snow I never watch
Snow, slow I see more here
Soul, a very slow show.
Toda a ira, de ratos e homens
John Steinbeck

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Pena, da paz", de Ramon Franco

PENA, DA PAZ

Dedicado ao cantor e compositor Pena Branca (José Ramiro Sobrinho)

Uma pena
Pena, da paz.
Pena, do cio.
Pena, da terra.
Não deixe de cantar o céu, “Mano Veio”!
Aqui, penamos sem você.
Pena, que sempre inspira
Voz, acalanto e aconchego
Pena, branca
Branca, paz

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Capitão", de Ramon Franco

CAPITÃO

Para Ernesto “Che” Guevara

“Los ojos que no quieren cerrar”
Uns olhos que não querem morrer
Uma vida que não quer ir
Um instante que não quer acabar
Um homem que age como se a humanidade inteira fosse
Uma fossa rodeada de homens, datas e uma estrela
Uma única estrela
Uma só estrela
Estrela que passa a brilhar o universo.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Las cárceles, no más", de Ramon Franco

LAS CÁRCELES, NO MÁS

a Yoani Sánchez y la Generación Y

¿Dónde estás Ricardo?
¿Dónde estás Victor?
Y Normando, ¿dónde estás usted?
Así, igual Júlio, Omar, Hector y Pedro,
¿También Pablo?
Ahora, ¿dónde quedó el canto de José Martí?
En la isla, quieren solamente una verdad,
No la verdad de aquellos que ya no pueden
Hacernos volar con las alas de libertad
Las cárceles, ¡no más!
Ahora, ¡llega!

Por una Cuba libre y mejor
En nombre de los periodistas encarcelados
en la isla que un día fuera
la casa de Hemingway
y abrazó al poeta García Lorca

III Antologia - Confraria dos Poetas: "O oito", de Ramon Franco

O OITO

O coito
Afeto, afoito
Açoito

Feto, veto
“Aboito”

Coito
Afoito
Afeto
Veto
O feto

“Aboito”
O coito

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Porto", de Ramon Franco

PORTO

Dedicado aos escritores
Osório Alves de Castro e Carolina Maria de Jesus

Sumidô e redemoinho

O mito da
volta.
um dia, todos
voltam;
nem que sejam em
forma de dó
de vento
de pó

O mito,
um dia,
volta

forma

vento


Harbor pity

The myth of return
one day, everybody
to return
such as
pity
wind
dust

To cast behind the back
Carolina
Behind to all pity
Maria
all dust
de Jesus
Full-time

Contemplando el puerto

El mito de la
vuelta.
Un día todos
regresarán.
Tampoco en forma
de pluma
y de pena
y de viento
y de pueblo solo.

volta, return, vuelta…

III Antologia - Confraria dos Poetas: Ramon Franco (Apresentação)

Apresentação:

Ramon Franco
Foto: Alexandre de Souza


RAMON FRANCO




Jornalista e escritor, Ramon Barbosa Franco nasceu em 3 de junho de 1979 na cidade de Paraguaçu Paulista, interior do estado de São Paulo. Antes de se tornar repórter, trabalhou como auxiliar de marceneiro ao lado do pai. Ingressou no jornalismo aos 16 anos e, desde então, já atuou na imprensa de Paraguaçu Paulista, Assis e Marília. Formado em Jornalismo pela Universidade de Marília, passou pelas redações de veículos como o jornal A Semana, jornal A Cidade e Folha da Estância (Paraguaçu Paulista), Voz da Terra (Assis), Jornal da Manhã, revista D Marília, Diário de Marília e Correio Mariliense (Marília), além de prestar serviços como assessor de imprensa e consultor de mídia corporativa para sindicatos e associações. Lançou, em 2010, pela editora Carlini & Caniato, o livro Contos do Japim. É coautor da biografia Laurinda Frade, receitas da vida, pela Poeisis Editora, e está na coletânea de contos de 2009-2010 do Mapa Cultural Paulista, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. Casado e pai e dois filhos, mantém o blog “O escritor japim” (www.ramonbarbosafranco.blogspot.com.br). Além de colaborador convidado da revista literária e portal literário Samizdat, é articulista de sites e jornais do Oeste paulista. Em 2010 foi escritor convidado da 2ª Feira do Livro do Colégio Cristo Rei (Marília/SP).

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Amor Real", de Fabrício Mendes Pereira

AMOR REAL

Sinto algo
Algo sublime
Algo puro
Algo divino
Real como o ar que respiro
Real como a dor que sinto
Dor por você estar distante
Mas, dor que desaparece
quando perto estou de ti
Minha rosa negra
Perfumada
Delicada, macia
Presente de Deus aos meus olhos
Amo você!

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Poema para cachorros", de Poeta das Almas (Febá)

POEMA PARA CACHORROS

Os olhos do cachorro cativavam meu espírito.
Abriam a imaginação de uma sensibilidade envolvente.
Como uma espécie de prazer, que enternecia os olhos com
uma alegria desinteressada.
Parecia que já nos conhecíamos antes, lado a lado. Um dia
éramos grandes amigos.

A beleza na pureza da recepção na alma é a dos cachorros.
Eles falam com os olhos e não pensam coisas filosóficas.
Nada passa pelo reconhecimento do cheiro.
Pelo cheiro, suas sensibilidades conhecem aquilo que
possuímos no coração.

Alguns foram crianças que tocavam o sonho, como um cachorro
sorrindo por viver um fim de tarde na praia com seu dono.
Existia um cachorro que via televisão, outro ficava na janela
observando, pensando num mundo mais amigo da ternura.

Eu falava, assim, suas línguas, e me perguntava o que eles
sentiam por dentro, não acreditava que ali somente existia
um ser mecânico.
Era poeta e dizia…
Quem sabe um dia, em outra vida?
Eu também fui lobo.
Um cão para acalantar as crianças
e fazer, de suas almas, brinquedos
para os sentimentos e pensamentos.
(Poeta das almas)

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Os seios e o artesanato", de Poeta das Almas (Febá)

OS SEIOS E O ARTESANATO

Vai chegar um dia em que quase todas as mulheres terão os
seus seios modelados com silicone. Vai ser tão comum que
não haverá mais mulheres que não terão seios abundantes.
Os seios menores serão todos chamados de exóticos, vistos
como um pêssego raro, pouco encontrado perante o universo
feminino. As mulheres voltaram a ter aquilo que nem
todas possuem, por um desejo esquecido, e o velho será,
então, bonito novamente. Como um artesanato raro, pouco
encontrado, em um mundo todo fabricado em série.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Poesia no metrô", de Poeta das Almas (Febá)

POESIA DE METRÔ

Com um breve pulsar, eles trocaram olhares, como se fossem
velhos conhecidos. Ficaram por minutos falando um ao outro
pela linguagem dos olhos.
Quando ela se aproximou, ele sabia que tinha chegado a sua
estação. O trem parou, não restou mais nada a dizer, e lá estavam
os seus destinos apressados, mais uma vez.
A porta se abriu, ela sorriu como um fragmento do tempo
da partida. Ela olhou bem dentro de seus olhos e disse, com
uma profundeza sem palavras, “Eu te conheço, mas não sei
de onde. Já estivemos juntos”. Como um breve sonho poético.
Quando ele percebeu, ela já não estava mais ali presente.
Outras pessoas estavam a seu lado. E ele ficou mergulhado
em pensamentos. Pois quem seria essa pessoa que ele não
saberia descobrir quem era, que se apresentava como um
rosto em plena multidão? Em um minuto, eles conversaram
com os olhos.
(Poeta das almas)

III Antologia - Confraria dos Poetas: "A beleza existe somente para os olhos", de Poeta das Almas (Febá)

A BELEZA EXISTE SOMENTE PARA OS OLHOS

A beleza, como o sentimento do belo, resulta dos olhos. A
beleza, assim, torna-se uma representação mental única de
cada ser. O sentimento do belo existe para os olhos de quem
vê. Penso nisso como a arte. Se não houver olhos, ou somente
olhos físicos, não veremos a alma do artista por detrás
da obra. Se o amor é cego, ele se apresenta muito mais pelo
sentimento que obtemos no contato com as imagens do que
pela própria imagem em si. Se a beleza existe nos olhos de
quem vê, ninguém, no fundo, é feio ou belo, mas sim se torna
belo ou feio pelos olhos daquele que sente.
(Poeta das almas)

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Quando eu perdi o seu amor", de Poeta das Almas (Febá)

QUANDO EU PERDI O SEU PERDÃO

Quando eu perdi o seu amor, a minha alma repousou.
Passei dias comigo, me descobrindo em outros lugares.
Falávamos línguas distintas, autônomas, como mundos adversos.
Quanto mais nos procurávamos, mais nos desencontrávamos.
Então, eu escolhi: preferi ter a falta a ter algo e não me possuir por inteiro.
Foi por acreditar veementemente no amor que eu quis perder
o seu amor.
(Poeta das almas)

III Antologia - Confraria dos Poetas: "A saudade é o gosto da primavera", de Poeta das Almas (Febá)

A SAUDADE É O GOSTO DA PRIMAVERA

Se os dias são frios e cinzentos,
são verões na primavera da alma.
Curtos sonhos viram longos desejos,
amanhecem flores por onde morre a saudade.

A saudade é como um rio que sempre volta para as suas
margens.

Te amo como as estrelas, num lugar inesquecível
É no infinito que te encontro nas coisas mais percebíveis
Toca-me a alma como se fosse sonhos
E volta e me faz respirar,
Lembranças gostosas como o vento.

Quem nunca se embriagou de saudade,
não provou o gosto do amor,
nem respirou o mel das flores do jasmim,
nunca se perdeu no entardecer das paisagens azuis,
não pôde tomar banho de sol,
nem encontrar cheiros que levassem à infância,
na dor de não ser mais o que era…

A saudade é o gosto da primavera
É o sol quando volta das nuvens,
iluminando o dia como poesia.
(Poeta das almas)

III Antologia - Confraria dos Poetas: "A caverna da alma", de Poeta das Almas (Febá)

A CAVERNA DA ALMA

Tudo aquilo que é muito esperado não vale o pouco que dura.
A surpresa é o arrebatamento da matéria que vem de fora,
como o mundo conhecido pela experiência do corpo
O que é esperado já foi vivido anteriormente como acontecimento interno,
antecipado, carregado de energia, que busca o inesperado
sentir, como um objeto que não existia e que passa, então, a tornar a existir.
Talvez esteja aí o significado do novo,
de não conhecermos o mundo,
de as coisas serem presentes apresentados.
Em quanto somos encontro.
Somos sujeitos que conhecem o desconhecido.
Existe um rio que passa dentro de uma caverna,
esse rio é a alma, que poucos veem
Essa caverna é o corpo,
que, das rochas, traz o coração.
Dos olhos, luz.
Do fogo, traz palavras
que permeiam as águas do esquecimento.
A caverna é lugar de contemplação que tornamos
temor e mistério.
É como se estivéssemos entrando em um mundo de que somos parte,
mas de que estamos separados.
Não existe tempo quando vivemos acontecimentos internos.
Assemelha-se ao pôr do sol, que está representado como
outro mundo lá fora, que nem sequer saímos da caverna
para vê-lo como um mundo apresentado todos os dias, sem
observador sentido.

Havia seres que faziam, das cavernas, lugares de abrigo.
Não se questionavam se haveria outro mundo por detrás de
pequenas fendas que mostravam o sol. Não tinham, ainda, a
ideia de que a natureza seria a manifestação do infinito, que,
de um mundo, haveria as portas para outros mundos.
Nunca sequer pensaríamos que, ao abrirmos as janelas,
veríamos um vasto mundo de um esplendor infinito. E nem
olhamos o céu, porque ainda não existia céu quando a alma
humana habitava, ainda, as cavernas.
(Poeta das almas)

III Antologia - Confraria dos Poetas: "As prostitutas também amam", de Poeta das Almas (Febá)

AS PROSTITUTAS TAMBÉM AMAM

As prostitutas são mais espiritualistas.
Elas sofrem, em seus mundos,
por prazeres ligados ao esquecimento.

As prostitutas mais baratas são as mais válidas.
Quando sentem prazer, são mais honestas no sentir.
O homem que faz amor com uma prostituta não pensa no dinheiro.

A prostituta não paga não é um fim.
O meio é sempre o prazer dos sentidos.
O fim é incalculável pelo impossível.

As prostitutas que fingem são variadas.
Há homens que não se questionam.
Há prostitutas que são virgens de amor.

As prostituas também sentem.
Em seus olhos, escondem tudo aquilo que não haviam encontrado.
As prostitutas também fazem amor.

As prostitutas também sonham.
A prostituta que ama
pensa compreender o amor como um sonho.

Em matéria de amor, só um perder dor
não sonha, ser sonha dor
(Poeta das almas)

III Antologia - Confraria dos Poetas: Sem título, de Poeta das Almas (Febá)

Eu gosto do seu rosto negro, eu gosto das máscaras negras.
Negra mais bela flor, paisagem do oriente
Uma noite, entre mil e uma noites,
todo deserto vira alma para você ser
um jardim florido de sonhos e paisagens.

Eu gosto do seu corpo negro escuro
Entre as estrelas, tênue azul
Divã de poemas, contos, desenhos
Revoada do prazer das primaveras

Encontrei a amante da minha alma
sentada, ao rio, em um campo de flores,
colhendo o mel das abelhas
Somente acorde o amor quando for sentido.
(Poeta das almas)

III Antologia - Confraria dos Poetas: Poeta das Almas (Apresentação)

Apresentação:

Poeta das Almas (Fernando Febá)


POETA DAS ALMAS


Descobri a poesia aos 13 anos e escrevi grande parte de meus poemas na adolescência. Foi uma fase de descobertas quando comecei a escrever meus primeiros poemas. Racionalizava e me censurava menos para escrever e dizer o que me vinha à mente. A poesia brotava como uma pulsão, por onde cada novo poema se apresentava como um símbolo. Hoje penso em escrever sobre a poesia diária da vida, sobre essa transição em que se apresenta o mundo, estando entre o efêmero e o eterno; entre a duração e o instante; o instante poético como a experiência do amor perante o mundo. Isso me fez pensar e escrever quando tive a experiência de ver, em uma praça, perante o caos de uma grande cidade, um cachorro e um mendigo dormindo abraçados em pleno sol poente. Eles estavam juntos como numa espécie de amor moribundo. Aquilo era um instante poético tão verdadeiro e singelo, como num verso de calor do sol da tarde, por onde a vida brota de suas maiores inclinações. “A poesia se faz na beleza da simplicidade do instante de recanto poético”. Ali seria o lugar onde terminam as nossas ideias mais relutantes e começam nossos sentimentos mais sutis. Os instantes poéticos são carregados de sentimentos, mas a pressa do olhar destrói a oportunidade de o espectador ver essas belas cenas que se apresentam junto ao mundo.

O tempo das coisas pode durar como um beijo.
Um beijo pode alterar o destino de todas as coisas.
Em um beijo, conhecemos a mudança do inesperado ocorrido.
O seu beijo fez, em mim, sua alma sentida.
Fernando Febá - (Poeta das almas)

III Antologia - Confraria dos Poetas: "5º ato – Por completo – 'Declaração'”, de Marcos Água

5º ATO – POR COMPLETO – “DECLARAÇÃO"

Pobre homem dominado d’amor;
Pobre alma vacante em torpor;
Pobre corpo envolto no desejo;
Jovem homem perdido – puro medo.

Infame, afanadora de sonhos,
Manipuladora, enlouquece,
Exala desejo que me entorpece,
Lábios doces, gélidos, risonhos…

Tenho teu caminho à minha frente,
Tenho tua voz guardada na memória,
Tenho teu cheiro, insistentemente.

Terei teus lábios, terá todo o meu;
Tocarei teu corpo, todos os segredos,
Terei tua alma, será assim em mim.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "4º ato – Fascinação", de Marcos Água

4º ATO – FASCINAÇÃO

Essa névoa cinza
Não me lembra em nada o brilho dos teus olhos.
Tento te encontrar nas belas camélias,
mas nenhuma delas exala teu perfume.
Ouço os amarelos rouxinóis,
mas nenhum deles tem o canto tão belo qual tua voz.

Essa esperarei só
E, por mais mil, se assim vier,
até o dia em que puder tocar teus lábios
e desfrutar de todo amor;
Então, deixar que, de ti,
o tempo me consuma.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "3º ato – Ao avesso – 'Desejo'", de Marcos Água

3º ATO – AO AVESSO – “DESEJO”

Em teus grandes lábios
encontro o calor do teu amor
O mel da essência
A palavra incompleta.

Em teus pequenos lábios
busco o fogo de tua alma,
a escuridão da incerteza,
a futilidade do desejo.

Em teus grandes lábios
ouço a síntese do meu ser,
lento e confesso,
instável e sincero.

Em teu corpo procuro concreto,
encontro somente o abstrato,
Quando meus grandes lábios
tocam os pequenos teus.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "2º ato – Fantasia – 'Mulher escrita'”, de Marcos Água

2º ATO – FANTASIA – “MULHER ESCRITA”

Que ondas trazem, do verde azul,
o pobre vento para meu peito,
do teu semblante, que se reflete
Se minha alma, de ti, se entorpece?

Do teu sorriso irradia luz
Que contempla a lua dos meus desejos
Olhos, pequenas estrelas negras
Transparecendo doce virtude.

Pobre daquele que a ti deseja;
Entrego-te de alma e coração,
sem rumo, dominado por tua paixão.

Anseio por tua boca doce e quente,
esperando pela noite fria
a contemplar a morte de forma serena.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "1º ato – Paixão", de Marcos Água

1º ATO – PAIXÃO

Obra divinal, radiante, reluzente.
Anjo celestial, detentora, inconfidente.
Prisão astral, libertadora, retente.
Loucura animal, feroz, perigosamente.

Obra infernal, sedutora, inconsciente.
Demônio genial, matador, inconsequente.
Arma fatal, impiedosa, subitamente.
Tempestade glacial, tortura, friamente.

É dor da alegria,
É sangue da ansiedade,
É borbulhar de incerteza.

Fria da dor de puro ardor,
Vida nova concebida de puro pecado
E nada cansado de tudo querer.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Só", de Marcos Água



Salta, abre meu peito
Leva tudo o que é teu
Deixa apenas o vento,
efêmero e gélido.

Levanta, comprime minhas pernas
Deixa-me só, apenas só
E leva tudo o que é quente e vivo,
efêmero e incompleto.

E quando disso tudo,
tudo apenas se resumir
ao ar úmido e doce,
espero beber do mel

E quando não houver isso,
e tudo se resumir ao pó,
sou de todo teu
Sou de todo ao vento

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Simples e sincero", de Marcos Água

SIMPLES E SINCERO

Teu sorriso é tão belo
Que, se simples,
Se faz sincero
Se faz sol

Teus olhos tão pequenos,
negros e serenos
Que, de tão reluzentes,
Se fazem sol

Tuas mãos tão precisas,
em branco, deslizam
em poucas linhas
Se fazem em um sol

As manhãs são aquarelas,
coloridas e belas
Que, de simples e sinceras,
Te tornam um sol

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Pecado", de Marcos Água

PECADO

Qual dor tortura minh’alma,
latente ao pecado da carne?
Qual ânsia perfura meu peito
ante as falsas verdades?

Fogo que se alimenta do amor,
arde em brasas, em braços,
faz tremer de calor,
enquanto o frio nos consome.

Perdão a nada errado,
medo do crime que já se fez
castigo é não ter.

Que me condenem os céus,
que me matem os homens!
Anseio pelo pecado da carne.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Póstumas violetas", de Marcos Água

PÓSTUMAS VIOLETAS

Quão sincero encontro,
em minha efêmera dádiva,
a faz mais verdadeira
ante as juras que fizera

me faz arder, passageira,
nos olhos que nada imploram
me libertam dos laços
ente as juras que me fizeste

busca infame da hipocrisia
insensata nos becos sombrios
pelos jardins de violetas

mas não é o amor o combustível,
e sim a paixão
ela move os mundos

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Subconsequente", de Marcos Água

SUBCONSEQUENTE

Na finitude do não ser,
onde se divide o semiespaço,
onde o divino faz compasso
no infinito do nada fazer

Onde choque é revertido
por espelhos sem reflexo,
por medos sem nexo,
onde morte é divertido

Tal que o som é reluzente
Lá tanto onde tudo há volta
Lá tanto onde no frio há escolta
Tal que o sol é demente

Na finitude do não ser,
onde choque é revertido,
tal que o som é reluzente
na loucura de minha mente

No infinito do nada fazer,
onde morte é divertido,
tal que o sol é demente
na insanidade do subconsequente.

III Antologia - Confraria dos Poetas: Marcos Água (Apresentação)

Apresentação:

Marcos Água


MARCOS ÁGUA


Marcos Água, 17 anos.
Estudante, mariliense.

Quando me perguntam quem sou, alguns conceitos me fogem à mente, pois, como já dizia o grande Renato: “acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto” (“Teatro dos Vampiros”, Legião Urbana).

“Viver é melhor que sonhar” (“Como nossos pais”, Belchior)

Estes poemas que humildemente se encontram nesta rica antologia baseiam-se em experiências vividas desde o início de minha adolescência até os tempos atuais. Talvez eles sejam de parte importante, porta-retratos das minhas vivências e, ao mesmo tempo, o pulsar de uma certa parte que todo indivíduo tem dentro de si.
Escrever, para mim, torna-se importante a partir do momento em que se torna difícil organizar todos os sentimentos, emoções e experiências; e, ao mesmo tempo, apresentar toda a beleza que cabe em cada um desses gestos. Com um único lápis, o poeta descreve a poesia que há em todas as cores do mundo.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Triste poema pobre de um desabafo sem fim", de Luiz Brito

TRISTE POEMA POBRE DE UM DESABAFO SEM FIM

Sinto falta de um amor que me ame na proporção
do amor que te dou.
Acontece que esse amor existe, eu sei.
Está pronto para me salvar deste precipício em que me
encontro.
Eu totalmente perdido na tentativa frustrada
de construir um destino que não é para dar certo.
E te dou o amor que tenho em grande proporção,
como quem se doa ao abismo de um desejo mal resolvido,
incompreensível.
Que, de tão febril, sangra até doer.
Eu não suporto mais, embora persista nesse precipício, que
é cada vez mais fundo.
Parece morte, mas é a desilusão pela vida.
Sei que tem alguém me esperando, mas que renego, teimoso.
Por covardia e arrogância. Idiota, prefiro a angústia no meu
peito. Ah, Deus!
Sinto vontade de chorar, mas o choro me falta porque,
nessas horas, sinto raiva.
Raiva de ti, que agrado como posso, mesmo sem saber o que
te agrada.
Lamento! Mas tem alguém que não me quer nada
E que minha insegurança, minha desconfiança. Meu coração
repulsa.
Simplesmente porque escolhi cair com você no precipício. E
o precipício será o meu fim, fim do abismo.
Terra da tristeza e da solidão

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Tentando", de Luiz Brito

TENTANDO

A gente está sempre tentando.
Tentando não ser sentimentalista demais
Tentando viver numa boa
Tentando acertar
Tentando contornar as coisas
Tentando entender
Tentando viver bem
Tentando a sorte
Tentando entender os outros
Tentando mudar
Tentando alguma coisa que não sabemos
Tentando um amor
Tentando chegar no horário
Tentando esquecer
Tentando lembrar
Tentando pensar positivo,
Tentando, tentando, tentando…
Tentando parar de pensar
Tentando, sempre,
achar que a vida pode ser melhor sempre.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Posse", de Luiz Brito

POSSE

Tenho a terrível sensação de te possuir.
Preso aos olhos e ao corpo. Apenas isso!

Triste dos que, como eu, se enganam crendo em ter.
Um dia, quem sabe? Acredito!

Pensando bem, nem sei se me vale te querer.
Tanto te quis e, do pouco, te provei,
que estou aprendendo a ser forte.
Cuidadoso com as minhas insanas divagações.
Me curando lentamente das muitas feridas.
Invento e reinvento, amiúde, as dúvidas e decisões adiadas.
Rechaçadas numa única vontade e na esperada decepção.

Possuo-te como água na hora da sede
Efêmero, entra pela boca e sai pela uretra.
Amarelado e fétido.

Não te tenho pelo tempo que eu quero, nele você manda.
Tomo seu físico e não tua alma.
Alma que já tentei por várias vezes penetrar
Quebrar a barreira, que é de aço.

E o fogo que te queima e que me enche de ardor não passa
de retalho
para quem precisa de uma colcha. E só por isso me iludo.

Ter-te ao meu alcance é minha busca
Em poucas frases, carinhos e delícias.
É a minha forma de possuir
O que eu nem sei mais
Se quero de verdade.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Corrida", de Luiz Brito

CORRIDA

Corri pelas ruas na velocidade do pensamento
Indagações, soluções e dúvidas. A resposta não aceita.
Não desisti, continuei a correr

Em meus olhos, o tempo e o espaço
A tristeza de Heráclito, na minha realidade,
transformada em vultos
Mas, ainda assim, corri

Corri pra te perder de vez
e ganhar as estrelas do céu, todas elas
Tão desorientadas como o caminho.
Sinto a perseguição na alma. Tua perseguição em sombras!

Na velocidade do pensamento,
vejo que há caminhos e fujo deles.
Me esbarro e o ar me falta
De nada me valem eles, corri para me perder
no achado do incerto

Um corpo molhado
Encharcado pelas lágrimas do suor
Um tropeço e ainda corri
pra fugir de tudo, encontrar um novo tudo,
mesmo que fosse tudo de novo.

Cansado, parei.
E tudo também parou. Vi que nada mudou no tudo
Mas, em mim, tudo havia mudado.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Roseira", de Luiz Brito

ROSEIRA
(Dedicado à Escola de Samba Sociedade Rosas de Ouro)

Roseira,
de onde surge a mais bela de todas as rosas.
São rosas de ouro, que nascem da vontade de brilhar;
Seduz pela vaidade, eleva os sentidos e emana riquezas.

Se abrem e tingem de rosa dourada o azul do céu.
Uma mágica mistura de cores que ilumina a fé.
Alimenta de esperança a vida dos que não se acovardam
diante da guerra.
Rosas que brincam exalando a essência do amor e da felicidade

Roseira,
que emite o mais belo dos sons
Regida por uma orquestra de pétalas douradas,
ecoa seu batuque e espalha seu canto.
Fascina, acalma e renova as forças
de quem não teme a luta.
No seu ritmo está a cadência da paz e da liberdade.

Roseira de gente
Bonita e atraente como o ouro.
De alma azul e rosa. Pueril e infantil.
Sua alegria poetiza a vida num grande carnaval.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Fígado que queima", de Luiz Brito

FÍGADO QUE QUEIMA

Um fígado queima
com o calor de uma paixão
Não compreendido, não decidido e inseguro.

Arde em ciúmes quando se perde em suposições;
Divagações anunciadas nas evidências que não cessam.

Um papel e o telefone de outro alguém
Belas letras redondas e lindas, convidativas e libidinosas.
Tão reais e vibrantes que instigam fantasias reprimidas
Reprováveis, embora desejosos.
Angústias e o álcool queimam o fígado.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Esse amor é de terceiro-mundo", de Luiz Brito

ESSE AMOR É DE TERCEIRO-MUNDO

De cima de você, eu via
Não compreendia, sequer entendia
Um minuto, um segundo…
Esse amor é de terceiro-mundo!

Num momento de lucidez,
em meio à embriaguez,
me via perdido em cima de você
Atado pelo desejo descontrolado de querer ser
dois corpos fundidos na ardente fricção,
subitamente enlameada por socos da aflição
Eu desejava sair desse submundo,
porque eu já sabia.
Esse amor é de terceiro-mundo!

Chega dos seus movimentos
Respeite meus sentimentos
Não me responda com seu prazer
Não quero seu prazer
Espere! Ouça o meu…
Respiro profundo
Me deixe fugir
Esse amor é de terceiro-mundo!

Estonteado, de cima de você eu via
tudo misturado no que eu sentia
Não sabia o que eu vivia,
mas tudo o que eu não queria,
nesse segundo de razão, era sair do meu mundo
para viver esse falso amor de terceiro-mundo!

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Depois do acontecimento", de Luiz Brito

DEPOIS DO ACONTECIMENTO

Quando reclamei dos acontecimentos do mundo,
invejava Vinicius e, no entanto,
hoje não quero mais amar ninguém.
Dizia que sofrer de amor contrariado era bom
Só que errei.

Na minha vida, o mundo mudou.
Ficou errático, desprendido, iludido e tolo.

Por isso, mudo de opinião
para reconhecer, humilde,
O fim da poesia.
Começo da vida.

Hoje desejo somente a paz e a calmaria
de uma vida em que nada acontece
Mesmo que eu seja um peixe. Velho, cansado e descrente.
Não me importarei mais em viver;
Apenas para testemunhar e declamar
o que acontece na vida de todo mundo.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Olhos e olhares", de Luiz Brito

OLHOS E OLHARES

Os olhares são mais sinceros que o coração
Não precisam pulsar, acelerar, saltar pela boca.
Muito pelo contrário, se fixam firmemente
como duas pérolas negras decididas.
Não falam, mas entregam segredos.
Questionam, deduzem, seduzem, encantam
Enganam como serpentes peçonhentas.

Olhos brilham nos prazeres e choram nas dores.
Entristecem quando não pressentem
a maldade dos cegos comuns
que não enxergam além dos seus preconceitos.

Olhos se quebram e olhares se perdem no horizonte.
Buscam compreensão, alegria e paixão.
Há os divididos por muros gigantes e vigiados por malícias
daqueles que não aceitam olhos unidos por olhares.
Infantis, travessos, felizes, amigos, olhares proibidos.
Quando perdidos, escondem-se em outros;
Infelizes, embora aceitos, normais e sem vida.

Pobres olhares, decifráveis.
Em lados opostos, se enganam em olhos alheios
Anseiam a esperança da superação,
registram, na memória, os restos de uma imagem
que nem sempre são belos olhares
Perolados e brilhantes.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Sexo", de Luiz Brito

SEXO

Esta noite eu vou ficar com a poesia.
Fazer sexo com ela
Acariciar as palavras
Beijar os versos
Desejar as estrofes
E gozar…
Poesia.

III Antologia - Confraria dos Poetas: Luiz Brito (Apresentação)

Apresentação:

Luiz Brito


LUIZ BRITO


Luiz Brito, 33 anos, é jornalista.
Estou muito feliz por poder participar da 3ª antologia poética da Confraria dos Poetas. Tive o privilégio de ter participado das duas anteriores e sei o quanto é importante para nós, poetas, termos uma publicação que divulgue nosso trabalho para os quatro cantos do país.
Saúdo todos os colegas poetas participantes que contribuem para a popularização da poesia. Dou boas-vindas aos nossos queridos leitores e, a todos eles, dedico as seguintes páginas.
Uma boa leitura e viva a poesia!

III Antologia - Confraria dos Poetas: Sem título, de Leandro Custódio


III Antologia - Confraria dos Poetas: "155. furto qualificado", de Leandro Custódio


III Antologia - Confraria dos Poetas: Sem título, de Leandro Custódio


III Antologia - Confraria dos Poetas: Sem título, de Leandro Custódio


III Antologia - Confraria dos Poetas: "INÚTIL", de Leandro Custódio


III Antologia - Confraria dos Poetas: "jéSUS jéSUS", de Leandro Custódio


III Antologia - Confraria dos Poetas: "êx-TªSE", de Leandro Custódio


III Antologia - Confraria dos Poetas: "DITADURA Pó&CIA", de Leandro Custódio


III Antologia - Confraria dos Poetas: "S2 par/tido", de Leandro Custódio


III Antologia - Confraria dos Poetas: "Man!fe~to twittismo", de Leandro Custódio


III Antologia - Confraria dos Poetas: Leandro Custódio (Apresentação)

Apresentação:

Leandro Custódio


LEANDRO CUSTÓDIO


Militante: filiado ao PCdoB e à UJS, utiliza muitos de seus versos para retratar as contradições do sistema capitalista e a influência do micropoder do sistema neoliberal sobre o cotidiano das pessoas. Tudo pela (Consciência) Classe Proletária.

Enxadrista: atleta há 7 anos, ocupo-me diariamente com o estudo teórico e a prática do xadrez – a arte das 64 casas. Também sou árbitro oficial da CBX (Confederação Brasileira de Xadrez) e atual professor e presidente do Marília Xadrez Clube.

Poeta: escrever é um refúgio em que desabafo e questiono o mundo. A filosofia e a poesia devem estar atreladas. A obra O Tudo do Nada sintetiza minha 1ª fase como poeta, acessível gratuitamente pelo Blog: leandrocustodiopoeta.blogspot.com.br

Twittismo: fruto de um devaneio modernista, minha poesia quer tomar ares mais radicais que os de poemas convencionais, nos quais estava inserido. Com isso, trago traços da poesia moderna acrescentando tendências contemporâneas, como o minimalismo. Aqui faço uma experimentação/exposição desse trabalho!

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Quase tudo em você que eu amo", de José Eduardo Mendonça

QUASE TUDO EM VOCÊ QUE EU AMO

Os sulcos quando você franze a testa.
Tuas mãos.
O bater de cílios que faz ventar a folha de papel onde eu tentei
em vão escrever um poema.
Teus pés inertes e incomodados.
Tuas mãos que sempre espalham pelas mesas lacres de cigarros,
palitos de fósforo e uma tristeza funda vinda de alguém
que nem sequer é triste.
Teus lábios que abraçam a beira de um copo.
A gola de teus improvisados agasalhos.
Teu pescoço comprido como um quadro de Modigliani.
Teu olhar comprido como o mundo e além dele.
Tudo que eu não digo.
Tudo que eu não tenho mais como dizer

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Cinza", de José Eduardo Mendonça

CINZA

Há um cinza uniforme sobre tudo,
poeira sobre a mobília
na casa de súbito abandonada,
onde as janelas batem com o vento
e a umidade cuida de apodrecer
objetos com os quais ninguém mais se preocupa,
cuja própria existência quem um dia deles soube se esqueceu.
Todos se foram em silêncio
sem nem deixar qualquer memória.
Há um cinza uniforme sobre a alma
que não sabe mais que corpo habitar.
Há uma cinza uniforme no coração
que bate solitário e sem eco,
enquanto um outro coração quer amar,
mas olha para o luto e a perda
e não quer tirar as bandagens
para não expor à luz a cicatriz
onde antes havia o corte e a dor.
Há um cinza uniforme sobre o corpo
que não pode partilhar seus desejos
e tenta criar um contato
e encontra refração,
um pedido para que ele, alma e coração
esperem, esperem,
um dia que quem sabe virá,
quem sabe poderá não vir,
desacontecimento rompendo o círculo
para tangenciar a vida e espirrar
como cometas espirram
no choque com o calor da atmosfera.
Há um cinza uniforme sobre tudo
que o dia cinza reluta em disfarçar.
Há um choro atrás da porta,
um trinco e uma chave,
há um grito sem repercussão.
Há um homem que caminha na chuva e sente frio
e que quer varrer dos ombros
o peso de sua condição.
Há um coração que não pode chegar
e não pode ir embora
e seu amor é um tributo, uma sina,
dádiva, magia e mistério.
Há um coração que está dentro de um homem
que apenas pede que a vida possa prosseguir.
Com sobressaltos e cambalhotas,
mas que possa prosseguir.
Há um cinza uniforme sobre um coração cansado
que poderia cantar suas tantas melodias,
espalhar sua palheta de infinitas cores,
dizer coisas suaves em um ouvido que ouvisse,
se espalhar e esparramar e,
junto com o corpo que o abriga,
estar com sua amada em seus folguedos,
deixar escorrer sobre a pele o toque
que só quer ser carinho.
Mas há um cinza uniforme sobre tudo
e o homem dobra mais uma esquina,
enquanto a água escorre em seu rosto,
lavando o sal que se abriga em seus sulcos.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Solidão", de José Eduardo Mendonça

SOLIDÃO

Eu sinto a solidão dos homens verdadeiramente solitários.
Levanto os olhos sobre a revista
e vejo do outro lado do balcão
o homem que mastiga seu sanduíche
com olhos de quem costumeiramente mira o nada.
Não seu interior, mas o nada mesmo,
a insubstância, a perspectiva da volta
para a casa desabitada,
onde não há vida durante todo o restar do dia.
Eu não falo com o homem do sanduíche
e os olhares de todos em redor não se cruzam.
Não são mal-educadas as pessoas solitárias,
são amargas, e talvez pouco levem além disso com elas,
um saco de papel marrom com restos
que sempre sobrarão putrefatos na geladeira,
fazendo companhia ao leite vencido, porém presente
como um atestado de indisfarçável condição.
À exceção de um esgar de inquietação,
são resignados os seres que partilham
suas miseráveis refeições.
Pode bem ser que nem tristes sejam
porque esse sentimento quedou abandonado
junto com tantos outros,
manchetes velhas amontoadas
num canto do quarto de empregada.
Há solitários amarrotados, elegantes, impecáveis,
escanhoados qual bebês, ou com pelos
que desleixadamente crescem
como se ao rosto nem pertencessem.
Não importa.
Por todo lado há a marca do olvido
em prédios de apartamentos
que empilham precoces asilos.
Estão à margem e já não recordam do outro lado
e de como a ele chegar, se lembrassem.
Pontas de cigarro queimam nas calçadas.
Não estão mortas, mas ninguém mais as fuma.
Logo serão varridas pelo vento e tragadas pelos bueiros,
rodando num turbilhão sem nexo.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "O céu de Brasília 2", de José Eduardo Mendonça

O CÉU DE BRASÍLIA 2

Porque finalmente as coisas são como são,
Eu deito os olhos nas nuvens e não vejo mais gigantes,
Ursos, rostos de aparência extravagante, ou sonhos bons,
Ou pesadelos.
Eu vejo os aviões singrando um céu claro
E depois baixo os olhos e vejo a coruja na cerca,
E depois adentro os olhos e os recolho,
Porque ando maravilhado,
Porque, finalmente, as coisas são como são.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Pra dizer adeus", de José Eduardo Mendonça

PRA DIZER ADEUS

Este infecundo perseguir de nuvens,
poema que começa de seu fim.
Adriça de bandeiras, tramelas de portas que nunca se abriram
Ilusões arrebatadas dos cafundós da alma redescoberta
Morro que subiria hoje a pé nem que empoeirado achasse
acima o nada,
Apenas para desencontrar o que nunca me foi dado como certo.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Cheiro", de José Eduardo Mendonça

CHEIRO

Estou impregnado do teu cheiro,
que não sai de mim quando me lavo,
como sangue sob as unhas nos abatedouros.
(Sombras surrupiam almas que, perdidas,
vagam sem saber da perdição
e julgam ter a dor de ainda existirem.
Tráfego silencioso de lamentos,
névoas dispersas nos barrancos
(onde o mundo acaba).
Estou contaminado por teus olhos,
que não me abandonam quando fecho os meus,
como as marés que seguem para sempre as luas.
(Trevas descem sobre as águas,
ondas sem lembrança de onde um dia houve luz.
Trânsito dorido de sinais,
faróis que conduzem a naufrágios).
Estou tomado por teus pelos,
que não desgrudam de meu corpo,
como pétalas que brotam e ficam até a queda,
que não chega nunca.
(Movimento tenso de corpos
aos quais a morte chegou despercebida).
Te prego nas paredes,
penduro e despenduro teus retratos
até a hora em que perco tudo e durmo.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "A construção da intimidade", de José Eduardo Mendonça

A CONSTRUÇÃO DA INTIMIDADE

Eu te dou: minhas bolinhas de gude,
a verde, com uma lasca de banda,
a amarela rajada como teu olho (que não sei se é o esquerdo
ou o direito).
Você me dá: tuas caixinhas com
tuas cartas de amor,
teus santos todos,
os pedaços de chocolate que não estiverem debaixo de tua cama,
os retratos de teus cavalos,
os cavaleiros de toda a Távola Redonda,
uma jangada de papel para se chegar a bom termo a Ítaca.
Eu te dou: minhas noites insones, meus espantos,
o bauzinho com o camafeu do rosto que não conheço,
um prendedor de gravata de meu pai
(porque eu também sei ser sisudo),
o menino que olha de dentro da foto com as mãos pequenas
postas sobre a mesa,
o globo do mundo e a lousa atrás com os meus saberes todos,
os olhos que sobre ti pousam bonitos e alumbrados.
Você me dá: minha ilha onde no momento, chove, meu silêncio
e minha solidão,
tua canequinha de folha de flandres de tua infância descalça
num canto de Pernambuco,
teu canivete para descascar as mangas,
as partículas brilhantes do solo onde pisas com teus dedos
finos e espalhados.
Eu te dou: a tramela da porta para que nunca ninguém mais
a tranque,
as estrelinhas de botar no teto que eu comprei um dia para
até então dormirem sob o tempo nublado,
meu sopro que revela o céu no qual teu hálito habita.
Você me dá: o troquinho do sorvete,
as ninharias pequenas e as grandes,
os estalinhos de São João,
o luzir, as tempestades das quais tu tens tanto medo, os raios
de tudo que em ti reverbera.
Eu te dou: todo o mato que em mim cresce sem controle,
meu desajuízo, minha intermitência e minha perenidade,
minhas águas que lavam todos os pelos que contém seu corpo,
meus sonhos, que não conto para ninguém,
mas só para você eu conto porque moram, em meus olhos,
que tu aquietas,
eu, enfim, feliz,
eu finalmente repousado.

III Antologia - Confraria dos Poetas: José Eduardo Mendonça (Apresentação)

Apresentação:

José Eduardo Mendonça


JOSÉ EDUARDO MENDONÇA


Jornalista, poeta, tradutor e artista plástico, José Eduardo Mendonça nasceu em 1951 em Cambará, no Paraná, mas é um paulistano que ama sua cidade de adoção – a qual enxerga, assim como vê todo o Brasil, com os olhos que ganhou de suas leituras de Mário de Andrade (segundo ele, o mais importante intelectual da história brasileira). Lê muita poesia, mas, se lhe perguntarem qual é seu poeta favorito, dirá, na bucha: Murilo Mendes.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Louco motivo", de Johnny Walkman

LOUCO MOTIVO

Para ser louco, tem que ter motivo,
e meus princípios são de revolução,
me joguei entre a loucura e a sanidade,
pois todo louco tem sua vírgula de razão.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Semente da revolução", de Johnny Walkman

SEMENTE DA REVOLUÇÃO

Ouça as palavras se desdobrando
nesta eterna busca pela revolução,
entre uma página e outra,
sei que nada é permanente,
a não ser que faça sua história,
que deixe um legado bem plantado,
pra que o futuro colha descendentes.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Liberdade para os conceitos", de Johnny Walkman

LIBERDADE PARA OS CONCEITOS

Orientação massiva aprisiona o cidadão flexível,
isolamento social, cativeiro invisível
tentam segurar minhas opiniões,
então, as ações comprometem as missões?
revolução armada será que resolve?
demorou! deixa eu empunhar meu revólver!

III Antologia - Confraria dos Poetas: "De que vale?", de Johnny Walkman

DE QUE VALE?

De que valem
grandes obras, mas com o interno baldio?
De que valem
grandes músicas sem a essência do vinil?
De que vale
um grande avanço, se do lugar nunca saiu?
De que vale
um homem de grandes ideias, mas com o coração vazio?

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Indissolúvel momento", de Johnny Walkman

INDISSOLÚVEL MOMENTO

O meu compor há de ser de amor,
a respeito de uma causa doce que provoca dor,
não é um tratado emocional, que passeia sobre as linhas,
é sentimento verdadeiro que, sem pressa, caminha,
que acredita na mudança como as nuvens do céu,
mas também há de serem apenas manchas no papel,
e, na grandeza do indissolúvel momento,
descrevo, à flor da pele, este louco sentimento,
que despertou do seu dormir e se tornou minha profissão,
mas ainda há quem diga que eu estou por emoção,
é que nos meus sapatos só cabem meus passos,
e nem tudo que falo é recebido da forma que falo.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Última canção", de Johnny Walkman

ÚLTIMA CANÇÃO

No alto do rosto, uma lágrima apoiada nos cílios,
disposta a pôr um sonho à beira do precipício
desde já deposito, aqui, meu perdão,
se por acaso eu for fraco e deixá-la cair no chão,
como definir em palavras essa sensação
que alimenta uma última canção?
degusto um sofrimento que eu mesmo plantei,
se estou passando por isso, foi porque acreditei
em revolucionar, na era da globalização,
um desejo que sufoca esta missão,
habito um mundo que eu mesmo construí,
onde sou pela rua, só que a Lua é que é por mim,
e, nesse extenso teto livre, uma triste inspiração,
vejo o sol de luto pela morte desta canção,
lá fora o vento toca melodia melancólica,
e, nos traços da caneta, minha alma chora,
mas o suspiro ecoa e vai ao encontro do papel,
só que as palavras não são doces como mel,
graças ao Papai do Céu sinto bater o meu pulso,
entre lembranças e recordações me entrego ao soluço,
sofro por amar demais a revolução,
quem foi que disse que amar é sempre bom?
meu coração é que o diga,
as palavras sentidas, das lágrimas caídas,
última canção, mamãe sempre dizia,
Johnny, as ilusões se vestem com suas fantasias.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "No gume da fé cega", de Johnny Walkman

NO GUME DA FÉ CEGA

Pai, ouve minhas lágrimas caladas, em forma de prece,
me faço de criado-mudo, sob a luz do abajur celeste,
pelo céu de cimento, entre as estrelas de adesivo,
meu templo três por quatro, onde me retiro,
peço que me abençoe e me abra caminho.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Se", de Johnny Walkman

SE

Se eu pudesse impedir que a noite devorasse o dia,
talvez impediria que a solidão me pegasse,
Mas, não consigo. Por isso a sensação de suicídio
pela dor da saudade.

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Na contramão", de Johnny Walkman

NA CONTRAMÃO

Fujo de um mundo onde o dedo indicador
vem na contramão dos meus passos,
vou junto com as areias da ampulheta,
que vai se cumprindo,
entro no último livro de um livro eterno,
inverno… trago a primavera num solo sem semente.
a mente semeia para não morrer,
culpa da distância da ida, que não voltou a tempo,
o vento traz o último voo do falcão que me caça,
a farsa que atrai, na tentativa de trair minha índole,
síndrome que satisfaz o ego
vivam as ilusões…

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Passos apressados", de Johnny Walkman

PASSOS APRESSADOS

Despertador, desperta a dor na mesma hora
no gargalo do dia, o galo faz a trilha sonora
acorda o barulho da rotina,
enforca o silêncio da matina,
bom dia, cidadezinha que vai à luta
bom dia, cidadão que acumula,
entre passos apertados, números de bituca,
com a cabeça em declínio, marchando com fúria.

III Antologia - Confraria dos Poetas: Johnny Walkman (Apresentação)

Apresentação:

Johnny Walkman


JOHNNY WALKMAN


Johnny Walkman é conhecido por esse pseudônimo nas ruas de Marília/SP. Semeia a ideologia de Iago Nohan, MC (compositor e cantor de rap). “Trago como filosofia de vida o que vejo, vivo e construo no meu contato direto com as ruas. Acreditei ser o que sonhei, mas o que sei eu daquilo que serei?… Se virarei lenda ou um cidadão apenas? Meu horizonte, com as minhas linhas expostas nesse universo chamado poesia, é atingir além da carcaça humana, alcançar o que a move, o ‘sentimento’.”

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Desfecho", de Inaiê Reis de Andrade

DESFECHO

Um dia nós teremos que partir
Quando chegar a hora...
Não devemos chorar e nem sorrir;
Apenas ir embora,
Porque a vida prossegue
E nos espera lá fora!...

III Antologia - Confraria dos Poetas: "A Morte", de Inaiê Reis de Andrade

A MORTE

É o grande objetivo da vida: -
Não tem outra saída.
De um modo ou de outro,
Nós caminhamos sempre
Em sua direção
Sem ao menos notarmos
E até mesmo sem o desejarmos.
É uma atração irresistível
Que nos arrasta a todos
Em um vórtice incontrolável.
Não há como escapar
Porque somos naturalmente
Conduzidos a ela. Na verdade
É similar à força de gravidade.
Não importa onde estivermos
Você e eu neste momento,
A vida vai nos conduzindo
À vala comum.
É lá que algum dia
Nos encontraremos inexoravelmente!...

III Antologia - Confraria dos Poetas: "O Andar", de Inaiê Reis de Andrade

O ANDAR

Meus olhos acompanham deslumbrados
Esse gingado mágico e sensual
Que flui tranquilo, muito natural,
E deixa os meus sentidos aguçados.

É lindo ver a doce bonequinha
Movendo-se na minha direção,
Transbordando de luz, de vibração,
Enquanto lentamente ela caminha.

Nada tem esse encanto fascinante;
Nem as ondas do mar, nem mesmo a lua.
Minha fêmea não anda; ela flutua
Como felina em passo deslizante.

Eu fico neste instante relembrando
Seus movimentos suaves, delicados,
Seus lábios gulosos, desesperados,
Que a cada passo vão me conquistando!...

III Antologia - Confraria dos Poetas: "O Futuro", de Inaiê Reis de Andrade

O FUTURO

Na juventude, cheios de esperança,
Nós fazemos planos para o futuro,
Como num sonho ingênuo de criança: -
Sonho sem mácula, singelo e puro...
Esperamos por ele. E o tempo avança.

O dia-a-dia torna-se mais duro.
Parece mais distante e mais escuro,
Como o horizonte, que ninguém alcança.

E, numa frustração vazia e triste,
Nós descobrimos que ele não existe.
Não há mais nada esperando lá fora...

Futuro é criação do pensamento;
Não há nada pra lá deste momento.
Futuro é uma ilusão: - ele é AGORA!...

III Antologia - Confraria dos Poetas: "Guarujá", de Inaiê Reis de Andrade

GUARUJÁ

De guarus és um viveiro
Que seduz o forasteiro,
Seja lírico ou romântico,
Pois és pérola do Atlântico.
Guarujá - nome nativo -
Tu és um nominativo
Nheengatu ou Tupi.
Diz uma lenda que ouvi: -
“Em noite de lua cheia
Uma atlântica sereia,
Com pérolas no colar,
Vem nos penhascos cantar
Nua, insinuante e bela
De uma beleza singela
Resplandecente ao luar
E quando o dia amanhece
Se embrenha na mata e desce
De volta ao fundo do mar...”
Depois que te conheci
Teu majestoso fascínio
Me estimula o raciocínio
Como forte desafio.
Então tento desvendar
O enigma desta ilha,
Da sublime maravilha
Banhada de sol e mar.
Alguma coisa há no ar
Que te envolve e que me encanta
E a tua atração é tanta
Que atordoado me sinto
Como em porre de absinto!
Então deixo o pensamento
Flutuar por um momento
Como no espaço flutua
À noite o brilho da lua,
Tentando escalar espaços
Tentando envolver nos braços
Teus encantos, teus contornos;
E sinto teus beijos mornos
Que a brisa traz desvairada
Do seio da madrugada
Entre os sussurros do mar
Que sobre a areia desmaia
Exausto à beira da praia...
E assim vou eu pouco a pouco,
Neste meu anseio louco,
descobrindo teus segredos.
A noite escapa entre os dedos
E logo chega a manhã
Nas vertentes, nas entranhas
Das águas, matas, montanhas
Desta terra de Tupã...
Agora sei te entender: -
Tu não és ilha; - és mulher,
Maravilhosa cunhã!...