QUEM É ELA
QUEM SOU EU?
nós cantamos baixinho
sons mecânicos na oficina de papai me relembrava um domingo passado
lá de longe eles vieram
cortar meus cabelos que caiam
lentamente
porque quando a queda é lenta faz sentir-se mais
(a cada fio
uma lembrança
nítidas dúvidas
meu precipício
sem esperanças
o corte mostra)
metamorfose de um passado
forçados entre luzes e sombras
naquela manha eu só queria as luzes da calma
acordar e respirar sem pensar no pulmão
tomar o leite da vaca e não a vácuo
o mel das crianças
com nata no pão
o cheiro de todas as manhãs
o cheiro de todas as manhãs
mamãe é o cheiro de todas as manhãs
ela entra no quarto
sem bater
me acorda sem falar
fala sem pensar
pensa teimosia?
pura poesia
casquinha de ferida na minha semente
me invade e me sente
e me ensina o sentir ser mãe
o que não sou
ela me une
e me afasta quando é preciso ser livre
voar
como corpos nus abraçados na imensidão
guarda meus voos
pra quando for preciso manter meus pés no chão
somos feitas onde a tristeza é sinal de alerta
num reino sem rainhas devastado por amor
entre goiabas em compotas sucos e geleias, bergamotas, flores de maracujá, jabuticabas, formigas e uma pulga com piolho atrás da orelha
dividimos a semelhança no silêncio dos olhos
e quando pergunto quem sou ela?
com os olhos na pergunta
respiro quem adormece por mim numa cadeira dura de hospital
e com o ar cheio de luz em meus pulmões
diz que somos tantas
é em quem clamo para amanhecer com vida
é onde os pássaros algazarram em círculos
e cantam quero quero!
.Gica Natali
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