Confrários!: Neologismo utilizado pelos participantes da Confraria, nascido da junção das palavras confrades e revolucionários!

sábado, 1 de dezembro de 2012

Fragmentos da Poesia Marginal: "Academicismo"


ACADEMICISMO
(Éric Meireles de Andrade)

Grita o falso profeta, no fundo da sala:
-Poesia é harmonia!...

Eu, cá no canto dos esquecidos,
Dos amadores e malditos,
Penso e repito:
-Poesia não é apenas composição melódica.
Não se entrava na ditadura das partituras
E nem vive só do canto e trova
Ela desafina quando ameaçada sua liberdade
E não precisa se escravizar por uma nota dominante.

Outro falso profeta, vestido de casaca,
Grita esbaforido no outro canto da sala:
-Engana-se o falso profeta melódico,
Para a poesia, fundamental é ser metódico
E seu carro-guia é a rima!...

Eu continuo no canto dos esquecidos,
Dos amadores e malditos,
Penso e repito:
-Poesia é algo mais que rima
Não se pode perder a quentura com sinônimos frios
E nem se viciar nas escolas emboloradas do passado.
Ela é fruto da novidade efêmera e lasciva
E de rigor,
Rima combina mais com amante do que prima.

Outro falso profeta, míope e cadavérico
Na porta de saída grita:
-Poesia é rima, método e melodia sim,
Mas precisa estar casada com a métrica...

Eu, cá no canto dos esquecidos,
Dos amadores e malditos,Penso e repito:
-Poesia não está apenas na métrica.
Ela se quebra, requebra e às vezes
Uma palavra já diz toda estrofe.
Nem é preciso me deitar neste leito,
Pois pauta passada não se rediscute.

Nesta balbúrdia cansativa de acadêmicos carcereiros,
Um profeta falso, perto do microfone dos desentendidos,
Berra em som de novidade:
-Poesia é acima de tudo ritmo,
Sem ele, poesia se acaba e dá lugar ao conto!...

Eu, cá no canto dos esquecidos,
Dos amadores e malditos,
Penso e repito:
-Talvez a poesia seja ritmo...
Mas no papel, soa percentual apenas em palavras criadas.
O ritmo está nas tintas de canetas gastas
E também no mesmo compasso de minha cabeça dormente
E do meu coração que condena.
Ando com ele fora dos cadernos
Nas ruas que me compadeço
E nos sexos que despojaram meu caminho.

Peço a palavra na maldita assembléia de egoístas descoloridos.
Com voz de contador de causo
Que saiu do canto dos esquecidos,
Dos amadores e malditos
Digo e reflito:
-Poesia são metáforas...

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