Confrários!: Neologismo utilizado pelos participantes da Confraria, nascido da junção das palavras confrades e revolucionários!
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Fragmentos da Poesia Marginal: "A Mário de Andrade"
A MÁRIO DE ANDRADE
(Éric Meireles de Andrade)
Navegar numa fonte
Que teima passar pela ponte...
Um ronco, um zumbido,
Constrói poesia em língua de floresta.
O barco plaina no desconhecido
E o nome de ruas gestantes de São Paulo
É o resto de nossa língua Tupi.
Mas você olha além da floresta,
E escreve como novidade quente o asfalto e o modernismo...
São Paulo, contigo, é morada de espírito.
Cresce como floresta de cimentos descontraídos
E mulheres deselegantes que não renegam a noite.
Mas entre você há paradoxos em losangos cáqui:
Nos contos, cartas, poesias, repartições públicas,
Na língua cantada e em nossa raça multicolor.
Em sua caneta de insônia febril,
Não há espaços para rimas pobres, ocas e velhas
E não sucumbe à boca maldita de Pietro Pietra.
Em clima de serenidade arlequinal,
Contradições na paulicéia desvairada
Renegadas em prefácio interessantíssimo.
Em seis dias de reclusão na fazenda encantada
Passou em liberdade de anti-herói engajado
Unificando em pena nossas línguas de florestas brasis...
Ainda que Tupis, Jês, Nhegatus,
Portugueses, Tamoios e Guaranis...
...(Aquiete-se meu amigo,
Não seremos engolidos pela tristeza
Somos todos Macunaíma!)...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Aécio"
AÉCIO
(Éric Meireles de Andrade)
Aécio, nome de mineiro,
E homem que carrega olhos distantes de desejo.
Cria a esperança em futuro estéril
Imaginando se esconder no ponto onde não vê
Ou embrenhar-se no sentimento preso.
Riso de homem que enfrentou a ira do destino
E história calcária de menino órfão
Indo conhecer sua enciclopédia em rodovias
Serenas de nostalgia e traiçoeiras de vidas.
Dura vida tem este homem sábio
E tristeza latejante de poeta oculto!
Aécio, nome de mineiro,
Notório intelecto sem canudo
Doutor da honra de homens sinceros
Rogo-te em pranto de filho pródigo
E alvinegro de coração vermelho:
Deixa a intertextualidade da dor invadir outras casas,
E descanse sorrindo com seus netos e filhos arteiros...
(Éric Meireles de Andrade)
Aécio, nome de mineiro,
E homem que carrega olhos distantes de desejo.
Cria a esperança em futuro estéril
Imaginando se esconder no ponto onde não vê
Ou embrenhar-se no sentimento preso.
Riso de homem que enfrentou a ira do destino
E história calcária de menino órfão
Indo conhecer sua enciclopédia em rodovias
Serenas de nostalgia e traiçoeiras de vidas.
Dura vida tem este homem sábio
E tristeza latejante de poeta oculto!
Aécio, nome de mineiro,
Notório intelecto sem canudo
Doutor da honra de homens sinceros
Rogo-te em pranto de filho pródigo
E alvinegro de coração vermelho:
Deixa a intertextualidade da dor invadir outras casas,
E descanse sorrindo com seus netos e filhos arteiros...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Absyntho II"
ABSYNTHO II
(Éric Meireles de Andrade)
Gosto de amargura e solidão
Bebida que amamenta a embriaguez
Com a falsidade de um gosto licoroso.
Traz para a minha consciência
A facilidade de gozar inteligência
E paradoxá-la(?) com relações motoras.
Toda a vez que possuo
Guarda para mim o chão sujo dos bares
Como posição de reza em capela.
É a minha puta amada
A fonte de meus degelos
E a destruição de alicerces escondidos.
É você, meu vício tardio
Absinto de melancolia
Em plena luz do novo dia.
A ti, dou-me cansado e sinto
Saio alerta, mas combalido,
No resto de nada desta madrugada...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Primavera"
PRIMAVERA
(Éric Meireles de Andrade)
Primavera febril,
Que traz o calor na manhã estrelada
E frio em noites de zumbido.
Primavera de sangue,
Onde pesadelos assumem a janela
E sonhos são guardados para o próximo verão.
Primavera escrota
Que distraída, deixa suas folhas no outono
Caírem em relações partidas.
Primavera prima,
Que nasce com as flores perto de meu aniversário
E a cada mudança se cala rendida.
Primavera vera
Cheia de volúpia e ancas de abrigo
Pseudônimo de árvore que gosta de cio.
Primavera, despedida colorida de inverno alvo,
Primavera, beleza explícita de galhos calvos...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Trinta anos"
TRINTA ANOS
(Éric Meireles de Andrade)
Trinta anos de homem canhoto
Trinta e três contos de réis
Três novenas
Trezentos paletós
E três mil anchovas na bandeja.
Trinta pecados
Trindade de profecias pisoteadas
Triciclo de criança pequena
Trio de música caipira
Triátlon de cansaço almejado.
Três corpos na cruz
(O três na Bíblia é para se ter direita e esquerda)
Triunvirato de machismo mineiro
Pai, filho e irmão tri-stonhos
E trinta anos de um homem canhoto...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Quatro amigas"
QUATRO AMIGAS
(Éric Meireles de Andrade)
Tenho quatro amigas
Que corrompem meu tempo de madrugada.
E em becos de bar
Acompanham-me nos copos suados.
Uma delas é a saudade
Singela e caprichosa
É inseparável em noites de insônia,
Abrindo suas pernas e esperando perdida
Meu lapso de penúrias e saudades.
Outra é a tristeza,
Que habita em meus olhos de nascente de rio
Corrompida e desvairada
Não tem hora de se mostrar presente
E me lambe de medos e fantasias vazias.
A outra é a desilusão,
Rica, gorda e perene em datas mal-resolvidas
É a mais pálida de minhas amigas
E também a que me lembra de datas rotas
E de choros perdidos na multidão...
Mas há também minha outra amiga
Cafetina de pôr-do-sol apaixonado
E filha de lua cheia em exposição.
Seu nome é esperança, mulher espinhosa e bela
Inimiga de minhas três amigas
E fiel ao meu amor de sentinela...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Absyntho'
ABSYNTHO
(Éric Meireles de Andrade)
Deixa-me beber em paz!
A guerra suja a alma dos bons
E atravessa a sacada de prédios frios.
Deixa-me aqui, caído na festa de pagãos!
Olhando pernas intocáveis
E a fome que avassala fora deste recinto.
Deixa-me só, ouvindo músicas de ontem!
Que refletem o nicho de nada de hoje
E não sobra nem o gosto de ser de esquerda.
Deixa-me com meus trapos belos!
A observar idiotices de jovens velhos
Todos garbosos, mortos de incertezas vãs.
Deixa-me com meu absinto!
Titubear onde piso, não olhar minha sanidade
E perder-me onde não há mais vida nem saudade...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Identidades"
IDENTIDADES
(Éric Meireles de Andrade)
Como as pessoas são identificáveis!
O soluço da menina barriguda
Que chora em sua poça de miséria
É parecido com a gargalhada
De minha irmã mais nova.
E os berros do bêbado desempregado
São os suspiros tristonhos de meu pai.
Ali, tem um moleque vadio
Olhando desiludido o horizonte de cimento
Sua saudade de sentir esperança
Parece com o riso medido de meu irmão.
E mais à frente há uma velha desdentada
Contando suas moedas de veludo.
Com o cabelo preso de desconfiança...
É minha mãe quando a saúdo!
E aqui estou eu, parecendo com aquele homem
Contando histórias de sua bravura cândida,
Mas se perde em não sentir mais seus dedos,
Apenas a ilusão de sonhar seus pobres medos...
... Como somos identificáveis!...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Novo"
NOVO
(Éric Meireles de Andrade)
Um outro dia clama por uma outra aurora
Constituir novas luzes e contradições
E perseverar sobre um novo mundo.
Um novo sem neo, sem véu e cristal azul
Na comunhão de novo toque e ardor
E da fidelidade pura e contemporânea.
Um novo olhar à velhice de ser novo
Sem ser simplesco, tosco, vulgar e pérfido,
Nunca permitindo um amargo tom pútrido.
Um novo com cara de criança
de sonho teimando em se transformar em vivo
Ativo em sincronia de som.
Um novo gostado e sentido, Onde o egoísmo pagão de deus
Não atrapalhe o brilho do que são seus...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Cacos de maldade"
CACOS DE MALDADE
(Éric Meireles de Andrade)
No olhar perdeu-se o encanto
A noite, a lua e as estrelas
Sentem-se sós e desconfortáveis.
Ao sentir sua inebriada felicidade.
Felicidade de mulher só
Que busca no orvalho
O cheiro e gosto de seus amores
E logo após pisoteia seu coração falido.
Que triste é esta felicidade!
Brinca de ardores e chora de solidão
Vivendo seus momentos de imensidão
Acalenta-se apenas
Em catar seus cacos de maldade...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Tortura"
TORTURA
(Éric Meireles de Andrade)
O frio açoita minha solidão
A amargura do vento gélido
Silencia-me na busca
De seu lamentável erro.
Aqui, nesta casa sem luz
A noite chega como aconchego
Marca os cantos escuros de minh’alma
Vaga pelos meus pesadelos perenes
E vocifera por não tê-la vivido!
Tarde maldosa e sanguinária
Que bebe minhas lágrimas como néctar
Afana a alegria, destrói a beleza
E deixa-me só, sem o direito
De viver meu pobre lamento
E nem minha eterna tristeza...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Eclipse lunar"
ECLIPSE LUNAR
(Éric Meireles de Andrade)
Quando acontece o eclipse lunar
Há uma preocupação em seu sorriso
Temerosa com o destino
E com a ira dos deuses,
Acalenta-se apenas em dormir cedo.
Poucas lembranças se constroem hoje...
O mundo gira devagar
Sem perceber a si próprio.
As carnes são escondidas do sal
E não molha o gozo cru.
Tudo pelo eclipse lunar!
Há o casal que se separa
Por relembrar equívocos em frestas frias.
Toda a noite se esquece do dia
E a natureza se destila em óleo fino.
Parabéns pelo canto desacorrentado
Olhar perdido esperando o véu voltar
Oh lua, despedaça-te de castigo nua!
Mande sua luz de volta ao matagal
E acorde novamente o meu amor...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Neocapitu"
NEOCAPITU
(Éric Meireles de Andrade)
Jovem dissimulada
Mundana que ama
E odeia ao mesmo tempo.
Com quantos me traiu?
Culpa-me quando mente
Ou desencana de minha total existência?
Jovem amada,
Que adora se sentir insegura:
Quando se liberará do infatigável lamento
De não saber absolutamente nada sobre sinceridade?
Ama-se para não sofrer
Ou sofre por não amar?
Pedaço de desejo inteiro
Beijo lascivo cortado em pedaços
Cabeça de menina travessa
De mentira carrega apenas o traço, De triste sina de sua racionalidade solitária...
Mente sim, jovem dissimulada...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Corpo frágil"
CORPO FRÁGIL
(Éric Meireles de Andrade)
Sou sortido de muitas dores...
Meus rins gritam
E minhas costas choram.
Em mim, o corpo é ocioso e cru.
Tão chato e exigente
Que mesmo em minha mão dormente
Consigo ter febres e manchas nuas
E acordo com o queimar da coca-cola.
Sem pensar em minha insônia
E na perseguição neurótica
De minha face vespertina.
Só sobra, em triste companhia
Micoses e luxúrias cafetinas...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Natália"
NATÁLIA
(Éric Meireles de Andrade)
Quando eras mulher,
Tu, minha de boa vontade
Fizeste-me em teus olhos de penumbras
E me colocaste em teus seios de musa.
Quando eras menina,
Seduziste-me na boa vontade de sua dor,
Que onde olhavas as pedras de rebeldia
Achavas oráculos de dores vadias.
Quando eras incógnita,
E lamentavas de pertencer
Aos mesmos demônios-deuses,
Pedias-me que te jogasse
No puro poço do desconsolo.
Quando eras simplesmente tu,
Despias-me de coragem bruta de solidão,
E fadigas sofregamente em imensidão
Os eternos corpos, que te fazem
Mulher de todo e só coração...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Confrários!"
CONFRÁRIOS!
(Éric Meireles de Andrade)
Meus amigos escrevem poesias em pé.
Levantam humores rápidos,
Sentimentos dos mais rápidos
Aos mais meticulosos.
Meus amigos vivem poesias
Todos lêem poesias de outros poetas,
Dos mais requintados, exigentes,
Aos mais podres e imediatos.
Meus amigos escrevem poesias
E não se perdem na sinceridade,
Preocupam-se em não serem medíocres
E nem poeiras apodrecidas de livros.
Meus amigos escrevem poesias
E não poemas de pré-vestibulares,
Abanam a história dos homens
E se refrescam em frestas de peludas mulheres.
Meus amigos escrevem poesias,
Contemporâneas como são as revoluções.
Destilam-se na sensibilidade da luta,
E se abraçam, esperando o fim do dia.
Meus amigos escrevem poesias.
Chico César torce pelo Botafogo,
Guiberto Genestra bebe tertúlias,
A Mariana, que é safada, reza para deus,
E eu sou parte de todos.
Por esta liberdade de serem poetas,
Escrever é o fuzil singelo
De mandar ao expurgo de Antártida
Os medíocres “escritores” de escrivaninha.
E para o inferno de ilhas sem águas,
Os lambe-sacos que escrevem
Para o nada
(E de anáguas)...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Divagação"
DIVAGAÇÃO
(Éric Meireles de Andrade)
O toque absurdo é duro,
O duro amolece após o gozo.
Memórias se esvaem
Na tragada de cigarros proibidos.
O mundo gira, e a cabeça
Se aliena nas dores humanas.
O pecado mora ao lado,
Os chinelos estão guardados
E a alma vaga,
Para o limbo de dúvidas pagãs...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Rosto de nuvem"
ROSTO DE NUVEM
(Éric Meireles de Andrade)
Olha a menina que passa e chora...
De corpo umedecido,
Suas pálpebras enxáguam
O largo rosto de nuvem.
Menina brasileira
Que chora a mesma cor
De ninfas apaixonadas,
Pisa em seu âmago de miséria
E se contorce para seu clamor, tardia.
Amanhã,
Teus brinquedos serão proféticos.
Só fadiga seus mistérios de menina
E se cala, debruçando-se na chuva...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Despedida"
DESPEDIDA
(Éric Meireles de Andrade)
Todas as despedidas
São sempre as mesmas...
Olhos findos, rumando
Para outros portos nus.
Onde choramos lágrimas,
Dizemos tropegamente
O derradeiro e sinistro: “Eu te amo!”
(O amor se afasta de mais uma casa)...
Não nos apegamos mais nas coloridas flores,
Pensamos na ansiedade no fio de luz
E iluminar saídas estéreis e sem firmamento.
Todas as despedidas são iguais.
Ao cabelo armado de resistências
De gozos não ouvidos (nem sentidos).
Os retratos na penteadeira,
Transformam-se noutras perspectivas.
E está aí a vida
Para nos jogarmos num escuro
Beco de mudanças.
Tudo termina, começamos novamente
Para surpresos acasos
De delícias e perturbações.
Todas as despedidas renascem,
Mas são sempre as mesmas:
Os relógios estão em fusos distintos,
Morremos para outro dia,
E traímos nossas sólidas questões.
Com certezas descabidas
No preâmbulo de noites-dia
De pura desolação e descontentamento...
(Éric Meireles de Andrade)
Todas as despedidas
São sempre as mesmas...
Olhos findos, rumando
Para outros portos nus.
Onde choramos lágrimas,
Dizemos tropegamente
O derradeiro e sinistro: “Eu te amo!”
(O amor se afasta de mais uma casa)...
Não nos apegamos mais nas coloridas flores,
Pensamos na ansiedade no fio de luz
E iluminar saídas estéreis e sem firmamento.
Todas as despedidas são iguais.
Ao cabelo armado de resistências
De gozos não ouvidos (nem sentidos).
Os retratos na penteadeira,
Transformam-se noutras perspectivas.
E está aí a vida
Para nos jogarmos num escuro
Beco de mudanças.
Tudo termina, começamos novamente
Para surpresos acasos
De delícias e perturbações.
Todas as despedidas renascem,
Mas são sempre as mesmas:
Os relógios estão em fusos distintos,
Morremos para outro dia,
E traímos nossas sólidas questões.
Com certezas descabidas
No preâmbulo de noites-dia
De pura desolação e descontentamento...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Fugaz"
FUGAZ
(Éric Meireles de Andrade)
De grande acerto, há sorte...
Parece que todas as pessoas,
Esquálidas, querem ser matriarcas
Numa terra de gordos...
Tudo parece eterno,
Mas no próximo segundo
Enganadas em refletir e repetir
O mesmo amor de ontem.
Tudo também é muito trôpego
Pessoas nascem e se reproduzem
Sem ao menos saber seu nome
Se não guardadas em abaixo-assinados.
Em tesão à flor da pele,
Nos perdemos e nos encontramos,
Em pessoas e sentimentos percentuais
E de sonhos, num estalo é desilusão.
Bebemos com ansiedade,
Sem sabermos se teremos
Direito ao próximo copo.
O que sobra em companhia
São mulheres e homens sem rostos
E um mundo rápido, que engolimos sem gosto...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Fim"
FIM
(Éric Meireles de Andrade)
Você foi embora...
Não sinto nada.
As lágrimas escondem
No meu coração de veraneio.
Para mim, retardatário
De carros de corrida,
Não entendia que
A festa tinha terminado.
Há muito tempo...
Ah! A distância é a mãe que aprisiona
E delimita todo varal de poesias,
Que antes variadas num realismo romântico,
Transformou-se em queda de arcanjos.
Às dez horas da madrugada,
O galo canta seu grito de despedida.
Hoje, nem a lua cheia aparece em céu límpido
Nem o sol aquecerá meu corpo traído.
O fim é o deserto sem répteis...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Xênia"
XÊNIA
(Éric Meireles de Andrade)
Tanta coisa poderíamos fazer...
Um tapa e um grito a cada dia
Fazia-lhe matriarca quixotesca
De elos e responsabilidades impostas.
De menina rancorosa,
Transforma-se em mãe
Com sorriso de mulher ansiosa.
Que adora prosa,
Mas se afeta com lástimas castelhanas.
O que mais admiro,
É que de mestra em salão de dança,
Rompe como medo de trovoadas.
Chora quando faz nosso pão,
Que é santo e sobrevive até as frestas de tesouro.
Mulher corajosa,
Carrega sempre ao peito
Amor de passados orgulhosos
E ainda briga com as mesmas facas,
Que afiadas apresenta sua imperiosidade.
De lagarta-bruxa se transforma
Em borboleta voadora,
Sobrevoa o mar em celo de Pégasus.
Em asas de Ícaro grego,
Reza a ladainha de s. Lucca judeu
(Assim, me ensina que dialética,
São suas mudanças planejadas).
Em dias de cimento,
Sua sensatez qualifica minh’alma,
Pois você é minha irmã,
Semideusa dos mitos da loucura
Matriarca de família inórbita,
Mulher de desejos quiçá alcançados,
E mãe de duas gerações de homens...
(Éric Meireles de Andrade)
Tanta coisa poderíamos fazer...
Um tapa e um grito a cada dia
Fazia-lhe matriarca quixotesca
De elos e responsabilidades impostas.
De menina rancorosa,
Transforma-se em mãe
Com sorriso de mulher ansiosa.
Que adora prosa,
Mas se afeta com lástimas castelhanas.
O que mais admiro,
É que de mestra em salão de dança,
Rompe como medo de trovoadas.
Chora quando faz nosso pão,
Que é santo e sobrevive até as frestas de tesouro.
Mulher corajosa,
Carrega sempre ao peito
Amor de passados orgulhosos
E ainda briga com as mesmas facas,
Que afiadas apresenta sua imperiosidade.
De lagarta-bruxa se transforma
Em borboleta voadora,
Sobrevoa o mar em celo de Pégasus.
Em asas de Ícaro grego,
Reza a ladainha de s. Lucca judeu
(Assim, me ensina que dialética,
São suas mudanças planejadas).
Em dias de cimento,
Sua sensatez qualifica minh’alma,
Pois você é minha irmã,
Semideusa dos mitos da loucura
Matriarca de família inórbita,
Mulher de desejos quiçá alcançados,
E mãe de duas gerações de homens...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Mar imaturo"
MAR IMATURO
(Éric Meireles de Andrade)
Tanto e tudo,
Não passam de meras vivências...
Pra você, o sólido é tão insignificante
Quanto meu pedido de seus beijos...
Não te vejo entre meus sorrisos!
Sozinha, livre e desinteressada
Joga em minha face
Palavras ignóbeis, feitas de pouco caso.
Saudades... Tem saudades de sentir,
E ainda ri de meu lamento...
Penso, e logo abuso de minhas inseguranças,
E desbanca minha coragem
Com sua medíocre covardia.
Todo o dia me joga de lado para vigia,
E toda a noite, dorme sem minha silhueta.
Sim, deixo-te sem abalos travessos,
E nem quero que me acompanhe a agonia.
Quero remar sem porto seguro,
Pois o caminho certo de meu barco
É o naufrágio num mar imaturo...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Minas que tardia"
MINAS QUE TARDIA
(Éric Meireles de Andrade)
Até onde vou
Posso segurar o mar nas montanhas,
Onde falo, sinto e vivo,
Estarei indo ao vento de minha Minas,
Gritando por seu triângulo libertário.
Onde estou, como e calo,
Jogo no gargalo a pinga de família
Lasseados pelo latifúndio sombrio.
Onde choro, declamo meu penar.
Passo nas garoas sedutoras,
Sonhando com chuvas chorosas,
Bondosas, como a paz
Que ainda tardia...
Fragmentos da Poesia Marginal: "O quadro"
O QUADRO
(Éric Meireles de Andrade)
O quadro vem e desponta,
Belo, vigoroso, significativo e iluminado,
Rompe a parede dos tempos,
Dos pregos e das opressões
Para despontar na eternidade.
Mas os quadros não sentem,
Não se olham e não se encantam.
Ficam lá... estáticos...
Na busca de serem admirados...
(A arte não supera a vida da humanidade.
É dos homens que nasce a estética do tom,
Da mímesis, conjuntura e sabor em espiá-las)...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Subserviência colonial"
SUBSERVIÊNCIA COLONIAL
(Éric Meireles de Andrade)
Bandeiras estadunidenses
Tremulam no céu do Brasil...
Aviões e tanques ianques
Brandiram por nossa subserviência,
E estamos sós, aplaudindo a comédia do pierrô!
Nossas bandeiras tremulam amareladas
Em velhas e empoeiradas repartições públicas,
Nossos artistas falam o inglês,
Como sede de nossa língua-pátria.
E continuamos a nos ver sem espelhos...
Nossas crianças, analfabetas,
Perderam-se em danças estúpidas.
O fétido mercado deliberado
Engole suas almas vívidas
E assim, perdem a alegria da raça...
Sem língua, sem pátria e sem bunda,
Repetidas idiotices são ditas como verdade.
O branco, o azul e as estrelas,
Não acompanham nosso verde e amarelo,
E sim, o ocre pútrido
De nosso rico sangue de subdesenvolvidos...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Silêncio"
SILÊNCIO
(Éric Meireles de Andrade)
Silêncio...
Não vejo seus passos no trilho
E nem bebo a relva
De seus pêlos macios.
Onde está seu sorriso brejeiro?
Evaporou-se em minhas manias?
Sei que não tenho destreza
E que comungas com o não.
Silêncio...
E sua parte presente me despresenteia
Castiga-me pelo seu controle estúpidoDe arco fabril de beijos,
E de olhos famintos, esbugalhados,
No espaço finito do nada.
Silêncio...
Acordo vendo seu corpo perdido
No porta-retrato imaginário
Ao lado de minha cama real
Do quarto nada mais é dona...
Só do silêncio...
sábado, 17 de novembro de 2012
Fragmentos da Poesia Marginal: "O louco é são"
O LOUCO É SÃO
(Éric Meireles de Andrade)
Olhos esbugalhados...
O louco olha para sua janela.
Entre o céu quadrado e preso,
Ouve a voz de sua medusa
Gritar seu nome entre os rochedos.
Mas mais aquecido,
O louco reza na voz dos desesperados,
Brada cobras e lagartos,
E some no meio de seus devaneios.
Como o louco é são!
Um homem diz não...
E o empresário olha para a sua janela
Entre o céu quadrado
E persianas entrecortadas,
Ouve a voz do capital
Entre o cimento de prédios retangulares,
Posa como bom samaritano.
Como o louco é são!
Um homem diz não...
E nos olhos do bandido há lágrima!
Entre os pentelhos, a culpa.
Joga seus planos nas favelas,
E na solidão de suas misérias
Tocava rebeldia com os textos mal vividos.
Pela puta, sua perna,
Pela bala, seu desconsolo.
Como o louco é são!
Um homem diz não...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Todo dia"
TODO DIA
(Éric Meireles de Andrade)
Todo o dia me sacrifico um pouco
Nas cruzes de uma depressão mais forte e veloz
Pela minha aparência animada
Os desenhos de desastres circundam minha porta,
E não durmo feliz com os anjos!
Todo o dia bebo meus pesadelos
E sonho sonhar nunca o sonho,
Debruço-me na maldita fuga
E no descompasso incompetente do meu corpo.
Todo os dias eu leio meus jornais-murais
E minhas revistas de despudor
Minha cama se banaliza em sangue
E meus olhos lacrimejam desejos.
Todo o dia caminho com a maldição
De deixar tudo para depois,
E buscar uma tristeza nos ladrilhos
Amarrotados de musgos e choros de meio-dia.
E onde crio jardins, colho bordéis!
Sim, todo o dia estou contigo!
Se hoje tu chamas Ana
Amanhã se chamarás Joana,
E assim me escondo em pessoas
Mas sumo nas sombras de minha loucura.
Todo o dia, busco minha cura...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Suor"
SUOR
(Éric Meireles de Andrade)
Saiu de minha casa
E deixou seu cheiro como presença.
Quando vi seu corpo
Estampado no espelho que figurou
Em gemidos e costas beijadas,
Chorei... e busquei o resto de sua água-benta.
Você foi, e seu queixo
Marcou minha boca,
Que há pouco
Te engolia em sofreguidão
E a cada passo molhado,
Em seu chão virou caminho
De paraíso-selva de teu sexo.
E agora estou só
Ouvindo passos de seu estar
E busquei não mais olhar
Para cama, que ainda sua
Atrapalhada de tanto nos amar...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Quarto solitário"
QUARTO SOLITÁRIO
(Éric Meireles de Andrade)
Triste e distraído,
Vejo objetos em meu quarto
Mirarem minha cabeça sã.
Ouço meus medos e frustrações
E me debato sabendo o fim do livro.
Não busco nada no fim do dia
E sinto palpitar em cavalgadas
Meu coração vadio.
Temo a loteria de meu futuro
E minto sobre o verdadeiro
Sentido de minha solidão...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Benito"
BENITO
(Éric Meireles de Andrade)
Ouço meu amigo chorar
Na rede de suas desilusões,
Repartido de sentimentos contraditórios
Clama a justiça de seu amor desengavetado
E se despedaça em sua caixa de músicas...
O amor perde mais uma batalha!
E nunca satisfeito de suas inseguranças,
Tranca a voz para os ouvidos dos mortais
E dialoga com seu coração de pólvora.
Ferido, desiludido, nada mais importa,
Apenas a dor lhe acompanha, amiga...
Cansado dorme boquiaberto que perdeu a guerra.
Para ele, só sobraram livros confusos,
Diálogos em ângulo obtuso,
E uma mulher que se viu em tudo,
Deixando apenas suas lembranças, e mais nada...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Márvio"
MÁRVIO
(Éric Meireles de Andrade)
De ti, é o escárnio.
Irmão, parte de meus cabelos perdidos
E cicatrizes de vida.
De ti, é a maturidade.
Guardada em pães feitos em forno
Enquadrados de brigas e sorrisos.
De ti, presença fantasma,
Em vozes esparsas de menino tardio
E homem que aconchega.
De ti, minha altura,
E vôos que não compreendo de suas quedas
E erguidas de contínua sobriedade.
De ti, safado e ingênuo.
Ser caçula é trabalho de ontem.
De hoje, é fraude de bom-dia.
De ti, tu és capitão.
Inebria de capas e máscaras Marvel
O bandido em mim,
Que combate e não vive.
Brinca e deixa-me ser suas reticências...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Adolescência"
ADOLESCÊNCIA
(Éric Meireles de Andrade)
No mais, vazio.
No entanto, irresponsável.
Porém, cômodo...
Assaz limitado.
Tremendamente só.
Sim, mal-humorado...
Talvez desrespeitador.
Ou doentio...
Muito folgado!
Menino frio,
Jovem tardio,
Homem inexistente...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Cínica"
CÍNICA
(Éric Meireles de Andrade)
Transviado eu sou...
Perdido na dor que engole minhas vísceras
E abalado pela sua extinção,
Começo a perceber que viciei-me em sua saliva.
Estou só,
Não ouvirei mais a brisa de Ipanema
Contar-me segredos seus.
E não verei seus gritos de carência perto de meu travesseiro.
Calado eu serei,
Sabendo que dormes em outros ombros
E beijas outras saudades.
Sacando sarcasticamente que sofro
Olha para minha desgraça
Tem a cara-de-pau de me dar bom-dia...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Bundalização"
BUNDALIZAÇÃO
(Éric Meireles de Andrade)
No sexo de suas esdrúxulas músicas,
Coube em si, somente o fugaz.
Assim, a humanidade perde sua consciência
E a razão não existe mais.
História, sentimentos e lutas de classes
São tapadas e fantasiadas
No balanço do bumbum e “no movimento é sex”
Constituindo-se assim a alienação corpo-mente,
Tão demente, que o homem se embudece...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Hoje"
HOJE
(Éric Meireles de Andrade)
Hoje, a praticidade se perdeu
E o pão não se molha mais para mastigar
São chamados de “novos tempos”,
Estes, de novo, só sobrevivem com o semblante positivista.
E ainda sucumbimos com a fome, a miséria e a guerra
Homens penianamente se satisfazem de mentirinha,
Nas mulheres prostituídas e oprimidas
E nos jovens, que pulam um carnaval de drogas, idiotices e morte.
Para este novo-velho mundo,
A humanidade transborda em hipocrisia
Matam nossas florestas, salários, índios...
E queimam sobre o fogo,
A alma fraterna e subversiva que teima em amar...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Mágica esperança"
MÁGICA ESPERANÇA
(Éric Meireles de Andrade)
É a hora da juventude se levantar...
Sair cantando suas palavras-de–ordem
Entoar a luta do povo.
É a hora dos trabalhadores tomarem para si
Os gostos e desgostos dos rumos da memória
Saber que a história deixou para eles
Nada mais que serem sujeitos de tudo que os está sufocando.
É a hora da morte do choro das mulheres
Cravadas na tripla jornada de trabalho,
Hoje assumem lugares não tão imaginados
De servirem a mola do capital
E serem caladas - ainda - pela estupidez da mão
É a hora dos negros, força histórica na produção.
A propaganda, as escolas, os hospitais de brancos impertinentes,
Tentam sujar seus corpos de cal
Lança ao mundo o fim das cores
Tudo enlameado e encardido de hipocrisia
E só sobra para a raça a enxada, a favela e a miséria.
É a hora dos deficientes, homossexuais, loucos e canhotos
É a hora do povo, que não sobrou e menos ainda tem,
Sem ter de esperar o que não vem.
Salta de seus olhos a lembrança de circo
Querem viver seus palhaços, leões e trapezistas
Sem esquecer o mágico
Que sumiu um pouco, o roubo da voz capitalista.
Fragmentos da Poesia Marginal: "Palavras"
PALAVRAS
(Éric Meireles de Andrade)
Palavras, quando escritas,
Brincam de esconder significados.
Palavras, quando faladas,
Deixam dicionários encabulados.
Dizer palavras de amor
É se esconder no que o coração grita
E que a mente condena.
Muitas vezes são desperdiçadas
Nos poemas de gestos glamourosos
Mas ocos, repetitivos, vazios...
Palavras têm gostos diversos
Comunicar é criar a beleza do entendimento
Não importando seu calão de inverno
E nem seu passado comprometedor.
Eu babo na sensualidade das palavras!
Das mais eruditas às mais onomatopaicas
Assim, deixo registrado minhas alegrias
E meu parco sorriso de trinta dentes.
Pois as palavras fuzilam impiedosamente
A minha triste sina de razão demente...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Danos"
DANOS
(Éric Meireles de Andrade)
Meu amor,
A orquestra ainda não tocou para nós
Nem nossas músicas, nem o vento
Invadiu esta pista de dança.
Cala-te e volte para o nosso lugar.
Sem o lamento da guitarra
Não poderei pensar em teus passos,
Apenas seguirei seus calos
E os gritos de dor
Que saem dos seus pés...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Solecanto"
SOLECANTO
(Éric Meireles de Andrade)
Quero escrever sem a primeira pessoa
Cavalgar como Neruda na silhueta das mulheres
E na luta dos povos.
Ou como Vinícius, vívido em sonetos de Encontro, Despedida e tantos outros.
E ir além, mergulhar nos demorados e profundos poemas da vida.
Sentir vulvas, pêlos, suor e batalhas
Não passa apenas por mim.
Posso até sentir em ato ímpar,
Mas eu passo... morro
E a poesia fica! ...
Fragmentos da Poesia Marginal: "O anunciado"
O ANUNCIADO
(Éric Meireles de Andrade)
Em tonta forma de observar a vida
Um anunciado bate em minha porta:
“Procura-se desocupados e vagabundos
para assumirem a culpa do mundo”...
Após o anunciado, bato a porta da intolerância
E não entendo por que me procura.
Eu? (não consigo responder tal fato)
Sou homem vagabundo o bastante para não sê-lo
Substantivo demais para uma interjeição
Um provérbio para o ponto final.
Logo após, vem outro engraçadinho:
“Procura-se ladrões de inocência e simuladores de torpor”...
(Também esta chamada me intriga)
Será que não vêem, pobres mortais,
Que não podem rotular azeitonas em sojas?
(mesmo que façam óleo, são divindades distintas).
E mesmo que busquem culpados
Estes são os próprios enunciados?
Não abro mais a porta...
Agora, fazem uma manifestação em minha janela.
Covardes, colocam máscaras de enunciado.
Pergunto-me:
Será que não há nenhuma forma para que eu possa me salvar?
Sento, respiro, penso...
E vejo que as mentiras dos cartazes
Ocupam apenas a minha rua
E que estou esquecendo que o que procuro
Não encontro apenas no meu bairro.
Então, me aproximo de minha janela
Vejo o sol iluminando todas as tristezas,
E chego a uma conclusão:
“O horizonte é demasiado infinito e vermelho
Maior do que a procura do vão”...
Fragmentos da Poesia Marginal: "O feijão e o sonho"
O FEIJÃO E O SONHO
(Éric Meireles de Andrade)
Mais espaço carrega o sonhador
Em sua poesia.
Lamenta, enobrece, canta os desejos
Não materializados em sua vida útil.
Para todos, será apenas mais um
Nas estatísticas do malfadado capitalismo
Para alguns, só a sopa para irem ao céu
E para outros, vagabundos que deturpam a moral e os bons costumes.
Ele, o Paulo, o Carlos ou Manuel
Alimentam muito mais que números e hipocrisias
Só criam a vontade de lutar e sonhar
De homens que verdadeiramente
Se preocupam com o amanhã...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Primavera incubada"
PRIMAVERA INCUBADA
(Éric Meireles de Andrade)
Perda... Derrota... Desilusão...
São palavras mal acabadas
Que teimam em dar a vida
Seu sentido eterno.
Mas onde estão as flores de maio?
Os amores que achamos após os perdidos?
As palavras-de-ordem e os punhos cerrados da esperança?
Espero que estejam incubadas
Em algum canto de jardim
Esperando chegar a primavera
Para você e para mim...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Reflexão"
REFLEXÃO
(Éric Meireles de Andrade)
Pego-me a chorar
Após a bofetada do cigarro de menta.
Sinto as mesmas músicas,
Que fazem a história de minha vida
Se misturarem em devaneios perdidos,
Com as lembranças de revoluções, mulheres e dores.
Mas percebo que o amor que tanto rodeia
Não me deixa enxergar a glória das noites mal dormidas.
(É nelas que guardei as melhores vitórias.)
Solto, perdido, achado, vazio,
Seja como a ordem por, como for
Sei que a brancura ou a negritude
De minhas ninfas
Ou com a mão na palavra ou no fuzil,
Seguirei sonhando com minhas angústias.
Pois meu cérebro pede mudança,
Meu corpo pede colo
E meu coração suplica vida...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Boneca de pano"
BONECA DE PANO
(Éric Meireles de Andrade)
Ouça, boneca de pano,
Os seus trapos fedem
Seu corpo é apenas pó e bolor
Seus cabelos, escassos,
Fazem lembrar
Um abajur de matadouro.
Mas nesta miséria em que se apresenta,
Existe um feno de amor
A costura da esperança
E um coração que geriatricamente,
Saberá seu futuro
Que é o canto escuro, do baú do esquecimento...
Fragmentos da Poesia Marginal: "Caliencia"
CALIENCIA
(Éric Meireles de Andrade)
Como um pedaço de pimenta
Arde a parede de minha boca
E nesta caliencia
Penso em sua flor-moça
Chegando a apertar as ondas do espírito
Nas palavras dos explícitos
Que caem no valor de minha canção...
Fragmentos da Poesia Marginal: ''Resistimos"
RESISTIMOS
(Éric Meireles de Andrade)
Resistimos,
Com tal zelo e prudência
Que a corja hipócrita
Não distingue nosso encanto
Com dor, fome e miséria.
Ah, coitados!
Não sentem que no mais puro pus
Há um corpo.
Esqueceram que da cinza
Há uma fênix de toda rebeldia
E se existe o silêncio
É porque estamos criando o eco
Da doce e ensolarada manhã...
(Éric Meireles de Andrade)
Resistimos,
Com tal zelo e prudência
Que a corja hipócrita
Não distingue nosso encanto
Com dor, fome e miséria.
Ah, coitados!
Não sentem que no mais puro pus
Há um corpo.
Esqueceram que da cinza
Há uma fênix de toda rebeldia
E se existe o silêncio
É porque estamos criando o eco
Da doce e ensolarada manhã...
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