A MAÇA NO ESCURO
Minha maça dourada queria ser gente
pobre dela que não sabes o que dizes - se
soubesse do lento gozo e quente
tentaria ser uma laranja
Essa sim vale apenas sê-la. Tem um
coração no compasso das velhas horas
e um pingente mais pesado do que o mundo.
antes, o trabalho pesado era querer-te bem
esse trabalho era mais difícil do que viver
tinha cantigas
com vozes maleáveis de tristeza
mais tristes do que as guerras
e dos sonos profundos quase mãos.
naquele período
eu te amava como as criaturas
singelas e sem as mães dos laranjais.
um sonho
adolescente e moldado.
pelo os leitos dos cantos
das passagens iluminadas
pela a sombra da tua calcinha
reluz uma relíquia.
por mais longe
que estejas nesse exato momento
vivo nos tijolos dos muros
num recanto isolado.
bebo vinho quente e
com um punhado de tabaco mofado nas mãos
alcanço a ânsia da
velha ternura que nos espreita.
na próxima parada comedida
o pequeno desejo morre inapelavelmente
jutos com o os casais apaixonados
e a sua vizinhança.
apareceste sobre os ombros bichados
uma face mais feliz e singela
era a face da laranja madura – que
espera a calmaria do rio
para fazer filhos no quinhão de luz branca
e desapareceste na mesma velocidade.
por muito tempo
achei que tudo isso era ausência:
ausência de amor, sexo, música e cigarros.
pois é. estava certo.
esse foi meu último desejo
e ninguém vai roubá-lo
só o dia de amanhã.
Francisco Hawlrysson
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