Confrários!: Neologismo utilizado pelos participantes da Confraria, nascido da junção das palavras confrades e revolucionários!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Guiberto Genestra: "Moleque desengonçado"


Moleque desengonçado

Eu era um moleque desengonçado inquieto e com remela no nariz
Ficava amuado na minha sabedoria de infância, disfarçado de levado. Observando e aprendendo. Às vezes mais aprendendo, do que observando

O tempo pegou carona no destino e passou, e ao final aquela meleca e aquele papo já não me agradavam mais. Restavam como uma sopa meio assim… um nada sem sal
Queria crescer rápido. Fazia-me questionar sobre tudo e sobre todos. Queria eu arrogante e intolerante me dessem contas de quantas interrogações pudesse me valer.
E me dessem respostas ausentes de tolices

Não pestanejava em ser moleque. E quando algumas respostas não eram suficientes ao menos para me tirar dessas derivas duvidosas em que me metia! Logo me tornava atrevido, lúdico e imbecil

Lançava meu calcanhar pontiagudo e inconveniente para lhes furar indefesa às costas dos pés. Não suportava mais rogar por respostas de adultos estéreis!

Seguiam-se empurrões e tentativas vãs de que um dos safanões me alterasse o comportamento! Um corretivo quase justificável àquela altura. Para alguns mais determinados então, bom seria me fazer defunto e meu corpo ferver à grande temperatura. Ao final porém, por sorte ou por herança, restavam apenas o carinho obtuso de algumas dicas…

Muleque do caralho! Quieta o facho, senta numa cadeira, engole uma caneta com tua mente fertilizada a pensamentos e vai escrever sua história pro diabo. Filho de uma égua!

Não escrevi nem ao diabo, nem a deus. Mas confesso, não sei a quem, pautei-me dos dois vez ou outra. Nasceu assim aquela minha busca sem fim, procurando decifrar os segredos da chama que nutre a luta entre o bem e o mal

Mas que muleque é esse?! Atrevido! Que sonoras vezes lhe fiz ralhas, rebuscados e parafusos? Mas não tem jeito! És mesmo um escoteiro das palavras… Faz então moleque do cão sua prece de ateu, tendo como padrinhos deus e o diabo. Escreve tuas façanhas, tuas dores e revela teus prazeres

É possível que o tenha feito a vida toda! A vida…
De fato, essa vida frouxa e comprometida ao mesmo tempo
No mundo confortável do Ter e sobre seu lombo não me fez passageiro. Ando a pé até hoje.
A vida que tenho me fez sinônimo de purgatório. Me deu atenção somente à loucura
E ainda me desejou banido do caminho que me levariam às respostas

E quem procura respostas assemelha-se aquele que esquece a própria dor.
Pra sarar outras dores, de outros que também a sentem (sem saber)

E quem procura respostas quer calar as bocas violentas. Por isso escrevo. Alguém gritou alto no meu coração que deveria fazê-lo. Por isso penso, vivo gritando dentro de mim
Por isso. E tão somente por isso a vida talvez não tenha sido assim tão madrasta comigo.


Guiberto Genestra

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