Carne.flor
Aconteceu assim o acidente:
Bati a cabeça no chão, fiquei
imóvel
O tempo pareceu eterno
Perdi os movimentos motores
Fiquei ali.
Ouvi e vi tudo, mesmo com os
olhos fechados
Uma voz de mulher gritando
— A culpa não foi minha, ela
atravessou sem olhar…
Eu sempre fiz isso
Antes Leandro sempre me salvava,
hoje ele não estava
Senti aquela lataria azul batendo
em minha perna
Meu cotovelo bateu forte na parte
da frente do carro
O tranco fez meu ombro fazer um
barulho estranho, como se quebrasse
Estava molhada, a lata azul
Escorreguei por ela
Bati o queixo no chão
Minha bolsa? Onde está?
Preciso ligar para minha mãe,
despreocupá-la…
Tem sangue no chão
Com certeza é meu
— Não mexam na menina, deixa o
resgate chegar
— Meu Deus,
tem muito sangue
Meu rosto lá no chão
Eu só queria levantar e pedir
para aquelas pessoas irem embora:
— Deixem-me só, minha cabeça dói,
fiquem quietos
Sono, o sono veio
Estava no chão, havia uma
pedrinha machucando meu rosto
Mas não tinha forças para
retirá-la dali
Deixei… quero dormir
Mas agora tem uma sirene ao fundo
Mexem em mim, sei que o fazem
Mas não sinto nada…
Algo quente percorre toda minha
espinha
Definitivamente nas desgraças e
das pedras nascem flores
Porque senti uma em meus olhos
quando não consegui mais ficar acordada
Os gritos ficaram longe
Minha bolsa, meu celular… preciso
acalmar minha mãe
A flor
Vi somente aquela flor que eu
desejei que ele um dia me desse
Um girassol, mas era branco…
estranho
Quando morremos, tudo é possível.
Gisele Lopes
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