Confrários!: Neologismo utilizado pelos participantes da Confraria, nascido da junção das palavras confrades e revolucionários!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Gisele Lopes: "Carne.flor"


Carne.flor

Aconteceu assim o acidente:
Bati a cabeça no chão, fiquei imóvel
O tempo pareceu eterno
Perdi os movimentos motores
Fiquei ali.
Ouvi e vi tudo, mesmo com os olhos fechados
Uma voz de mulher gritando
— A culpa não foi minha, ela atravessou sem olhar…
Eu sempre fiz isso
Antes Leandro sempre me salvava, hoje ele não estava

Senti aquela lataria azul batendo em minha perna
Meu cotovelo bateu forte na parte da frente do carro
O tranco fez meu ombro fazer um barulho estranho, como se quebrasse
Estava molhada, a lata azul
Escorreguei por ela
Bati o queixo no chão
Minha bolsa? Onde está?
Preciso ligar para minha mãe, despreocupá-la…

Tem sangue no chão
Com certeza é meu

— Não mexam na menina, deixa o resgate chegar
— Meu Deus, tem muito sangue
Meu rosto lá no chão
Eu só queria levantar e pedir para aquelas pessoas irem embora:
— Deixem-me só, minha cabeça dói, fiquem quietos

Sono, o sono veio
Estava no chão, havia uma pedrinha machucando meu rosto
Mas não tinha forças para retirá-la dali
Deixei… quero dormir
Mas agora tem uma sirene ao fundo
Mexem em mim, sei que o fazem
Mas não sinto nada…
Algo quente percorre toda minha espinha

Definitivamente nas desgraças e das pedras nascem flores
Porque senti uma em meus olhos quando não consegui mais ficar acordada
Os gritos ficaram longe
Minha bolsa, meu celular… preciso acalmar minha mãe
A flor
Vi somente aquela flor que eu desejei que ele um dia me desse
Um girassol, mas era branco… estranho

Quando morremos, tudo é possível.

Gisele Lopes

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